16.11.11

Orfeu, o herói de Escorpião

Orfeu ("o escuro") era filho do rei Ôiagro ("o que caça sozinho") e da musa da poesia heróica, Calíope, por isso e por seus dons como cantor ganhou de Apolo a lira feita por Hermes.

Seu canto atraía as aves, que voavam em torno dele, os peixes, que saltavam alto do mar para ouvi-lo... movia pedras e árvores, que o acompanhavam. Fez parte da tripulação do Argos, e com seu canto abafou o das sereias, salvando os Argonautas.

Metropolitan Museum
Voltando para a Trácia casou com Eurídice ("a que governa extensamente"), mas Aristeu ("o melhor", Zeus como deus dos mortos) se apaixonou por ela que, fugindo dele, foi picada por uma serpente venenosa e morreu.


Orfeu percorre toda a Grécia atrás dela, por fim segue pela estrada do reino dos mortos, como Héracles antes dele (mas não por amor). Seu canto comove Caronte, que larga seu barco e o segue; Cérbero não late ao ouvi-lo; Sísifo senta sobre sua pedra; Tântalo esquece a fome e a sede; os juízes dos mortos choram, e todos os mortos choram com eles. Perséfone se comove com o pedido de Orfeu e chama Eurídice com um gesto.

É lei do mundo subterrâneo que não se pode olhar para seus habitantes. Orfeu parte seguido por Eurídice mas, perto da saída, olha para trás, e a vê pela última vez: três ribombos de trovão e Hermes a leva.

Orfeu passa sete meses numa caverna, e ao sair se vê cercado por meninos adolescentes querendo ser instruídos. Ele os inicia nos Mistérios que trouxe da visita a Perséfone, instrui no ascetismo, e canta o começo das coisas e dos deuses. É um adorador de Apolo.

Uma madrugada, subindo a um monte para ver o sol nascer, surpreende o rito secreto das mênades a Dioniso. Elas o matam, esquartejam, e espalham os pedaços. A cabeça, espetada na lira, continua a cantar enquanto desce o rio.

Os mistérios órficos eram uma forma ascética de iniciação masculina, base da escola de Pitágoras. Seu criador mítico era o único herói (mortal), já que os de Elêusis e os dionisíacos tinham como iniciadores as deusas Deméter e Perséfone, e Dioniso, respectivamente. 
No mito de Orfeu o casamento sagrado - casamento com a deusa - aparece modificado, mas o nome de Eurídice a liga a Perséfone.


17.7.11

Parsifal e a busca do Graal - 1

O mito medieval de Parsifal ilustra o processo de individuação: a busca da própria identidade e da realização pessoal. O Graal é porém um símbolo muito mais antigo, da Idade do Bronze. 
Do mito oral surgiram as várias versões literárias, a mais antiga é francesa, do século XII. Seguiremos a alemã do século XIII, de Wolfram von Eschenbach, comentada por Joseph Campbell. As figuras são do manuscrito de Eschenbach.

O cavaleiro Gamuret vai para o oriente em busca de aventuras, e lá se casa com a rica rainha negra. Parte antes de ver o nascimento de Feirefiz, seu filho malhado de branco e preto.
No ocidente vence o torneio pela mão da rainha Herzeloyde, mas não deseja esse casamento, ao qual é obrigado por sua honra. Parte de volta ao oriente antes de ver o nascimento também deste filho, e lá morre em batalha.

Herzloyde chama o menino de "mon fils", "beau fils", e se retira com ele para um castelo na floresta, para que nunca queira seguir o caminho do pai. Ele cresce forte, amando o canto das aves e atirando nelas seus dardos, correndo livre pela floresta e ouvindo sua mãe falar dos anjos.

Parzival na floresta
Um dia vê numa estrada quatro homens a cavalo, em armaduras reluzentes, e se prostra pensando serem anjos. Os homens explicam que são cavaleiros, se quiser ser um deles, que procure o Rei Artur. Corre para contar à mãe e ela entende que o perdeu.
Para que ele desista, veste-o com roupas de palhaço, botas não curtidas, e lhe dá um pangaré por montaria. Diz-lhe para atravessar os rios no mais raso, ser respeitoso, procurar o conselho de homens de cabelos brancos, conseguir o anel e o beijo de uma dama honrada, e que seus dois reinos foram roubados pelo cavaleiro Lähelin. O filho promete vingá-la, e quando parte sem olhar para trás, ela cai morta.

O jovem anda sem saber para onde.
Encontra uma tenda onde uma bela mulher dorme seminua. Vendo um anel em seu dedo vai tirá-lo à força, e parte também com um broche e um beijo roubado. Chega o cavaleiro marido da dama que, ao vê-la sem o anel, rasga suas roupas e a obriga a segui-lo na busca pela vingança contra o homem que roubou sua honra.

E o jovem, sem qualquer culpa, segue caminho.
Encontra uma jovem com um cavaleiro morto no colo, que o reconhece como o filho da irmã de sua mãe, e lhe conta sua história e seu nome: "Parzival, partido ao meio, porque um falso amor partiu o coração de tua mãe". Seu cavaleiro morreu defendendo as terras dela.

E Parzival segue caminho e encontra um cavaleiro em armadura vermelha que desafiara o Rei Artur. Conduzido à Távola Redonda, Artur o sagra cavaleiro e ele parte.

Mata o Cavaleiro Vermelho com um dardo no olho  - dardos são proibidos para um cavaleiro.

No castelo de Gurnemanz
Como não sabe frear o cavalo galopa todo o dia, até ver pescando o idoso Príncipe Gurnemanz, que o hospeda. Com ele aprende a ser um cavaleiro, em armas e em regras de conduta: ter senso de honra, ser compassivo com os necessitados, não esbanjar nem acumular riquezas, não fazer muitas perguntas, responder honestamente, ser viril e de bom ânimo, não matar um inimigo que suplique clemência, ser leal no amor e que marido e mulher são um único ser. Não aceita casar-se com a filha de Gurnemanz e parte em busca de seu caminho.

Conduiramurs
Chega a um castelo defendido por cavaleiros magros, onde é recebido com um pedido da rainha virgem, Conduiramurs: salvá-la do rei que sitiou seu castelo para forçá-la ao casamento. Parsifal vence e imediatamente chegam navios com víveres.

Por três noites Parzival e Conduiramurs partilham do leito sem se tocarem: suas almas se casam antes de seus corpos. Depois de alguns meses de felicidade, Parzival pede permissão para visitar a mãe.

Depois de descobrir seu nome, ser iniciado nas artes da cavalaria, vencer as lutas e casar por amor, Parzival iniciará sua busca.

a ser continuado...

30.6.11

Aquiles, o herói canceriano

O herói principal da Ilíada de Homero teve um nascimento maravilhoso.

Sua mãe, Tétis, neta de Oceano, sendo a mais bela entre suas cinquenta irmãs, foi cobiçada por Zeus, rei do Olimpo. Mas Têmis, a titânide da lei divina, avisou-o que o filho nascido da bela oceânide seria mais poderoso que o pai.

Zeus - e seu irmão Posídon, que também a desejava - desistiram da corte, e foi determinado pelo patriarca que ela se casaria com um mortal.
Hera ajudou sua protegida a se casar com o mais piedoso e belo dos mortais, Peleu, que no entanto tinha uma história infeliz: educado pelo bondoso Quíron, mais de uma vez fora injustamente perseguido.

Nas noites de Lua cheia Tétis sai à praia para dançar com suas irmãs. Peleu a espera escondido, abraça-a numa luta de amor, e não se assusta quando ela se transforma em fogo, em água, em animal com dentes de leão, em cobra... e por fim se torna um peixe delicado e cede.

Depois da noite de núpcias numa cabana no campo, como era costume, acontece a festa com a presença de todos os deuses. Posídon deu a Peleu dois cavalos imortais, Quíron lhe deu uma lança de freixo... Mas Éris, a deusa da discórdia, não foi convidada. Barrada na porta, atira uma maçã de ouro "à mais bela", e as três deusas mais poderosas se arrogam o direito de pegá-la: Hera, Afrodite e Atena (o conceito de beleza aqui não é apenas físico, mas "a mais alta de todas as coisas boas do mundo").

Nenhum dos presentes ousaria ser juiz nessa disputa, e Zeus escolhe um jovem pastor do sopé dos montes Ida para decidir.

Páris não é um pastor comum. Irmão mais novo de Heitor ("o sustentador"), sua mãe Hécuba, grávida, sonha que dá à luz um tição que incendeia a cidade onde reina seu marido Príamo: Tróia. Cassandra, filha do rei e que recebeu de Apolo o dom da profecia, manda que o bebê seja morto. Exposto no monte Ida, reino da Senhora das Coisas Selvagens, uma ursa o alimenta, e um pastor o recolhe.
Hermes chega com as três deusas à presença do jovem, que se arrepia e tenta fugir.
Entre a vitória e o heroísmo, o império sobre Ásia e África, e a posse de Helena - famosa como a mais bela mulher do mundo - Páris escolhe a última e, como um adolescente incauto, ofende as outras duas deusas.

Peleu e Tétis vão governar a Ftia.

Príamo tem cinquenta filhos, e muitas filhas. Tróia tem a maior casa real de seu tempo. Hécuba, a rainha, é a Hécate frígia: derrotada, se transformará em cadela e se jogará ao mar como Cila. 

Tétis tem um filho, que recebe um nome de rio: Aquiles. Para torná-lo imortal, mergulha-o no Estige, segurando-o pelos pés. Peleu a surpreende e se desgosta: Tétis passa parte do tempo no mar com seu pai Nereu, e Peleu envia Aquiles a seu mestre Quíron para ser educado. Em sua caverna, Quíron o alimenta com entranhas de leões e javalis e tutano de urso, ensina-lhe a arte de curar, as maneiras gentis, e a tocar um instrumento de cordas.

No casamento de Tétis as Moiras ligam o destino de Aquiles a Tróia, por isso, aos 9 anos, a mãe o esconde no harém de um rei, como menina (Pirra, "cabeça vermelha"). As Moiras lhe dão "vida longa e comum ou curta e gloriosa".

Páris chega a Esparta quando Menelau, marido de Helena, está viajando. Afrodite faz com que a imortal rainha se apaixone pelo jovem, e ambos partem para Tróia levando tesouros da cidade. 
A aliança arquitetada por Ulisses entre os antigos pretendentes de Helena obriga todos a se unirem a Agamenon, rei de Micenas e irmão de Menelau, no exército que atacará Tróia, mas só depois de dez anos começa a viagem.

Ulisses decide levar Aquiles para a guerra, e arquiteta um plano para descobri-lo entre as mulheres, uma das quais, Deidêmia, estava grávida de seu filho, Pirro.
Peleu dá ao filho seus cavalos, que Atena torna falantes, e sua lança. Tétis encomenda a Hefesto uma armadura inexpugnável para seu filho.

O mais belo herói da guerra de Tróia desembarca matando na praia um ser primevo, o que põe em fuga os troianos. Tróia é cercada. Apenas mulheres saem para buscar água num poço, acompanhadas por um menino a cavalo, Troilo, filho de Hécuba, até o dia em que Aquiles arranca o menino de cima do cavalo e o decapita no altar de Apolo.

Apolo, Afrodite, Ares e outros deuses estão do lado de Tróia, contra Hera, Atena e outros deuses, que protegem os gregos. 
Apolo protege os adolescentes do sexo masculino, esta morte o ofende.

Por nove anos, como previsto pelos sacerdotes, os gregos matam e pilham nas cidades em redor de Tróia. A bela rainha Briseida é tomada como concubina por Aquiles depois que este lhe mata o marido e os irmãos. Criseida, filha do sacerdote de Apolo, fica para Agamenon, depois que Aquiles mata o rei e seus sete filhos - pai e irmãos de Andrômaca, esposa de Heitor.
O pai de Criseida procura Agamenon com vultoso resgate pela filha, mas Agamenon nunca cede uma mulher, e maltrata o sacerdote. Apolo incita Aquiles a censurar o rei, e a discussão entre ambos desperta a ira de Aquiles e o leva a se recolher em sua tenda.

Apolo envia uma peste que mata os animais e depois os soldados gregos, por isso Agamenon devolve Criseida, mas toma em seu lugar Briseida, por quem Aquiles se apaixonara e era correspondido. 
Aquiles se recusa a participar da guerra com seus homens, e os gregos passam a ser derrotados.
Pátroclo, amigo inseparável de Aquiles, consegue sua armadura emprestada com a recomendação de não atacar Tróia. Entusiasmado por estar invulnerável ele escala os muros e acaba morto por Heitor. 
A dor pela perda leva Aquiles a atacar, apesar do aviso de Tétis: "quando Heitor cair, tua morte estará próxima".


Heitor, marido e pai amoroso de seu filho bebê, sabe que vai morrer e que Tróia acabará, quando se despede da esposa Andrômaca. É o mais nobre caráter retratado por Homero.  

Aquiles mata Heitor e arrasta seu corpo com seus cavalos, não permitindo que seja enterrado. Na pira funerária de Pátroclo mata 12 jovens troianos. Com a ajuda de Hermes o velho rei Príamo atravessa o campo grego e consegue de Aquiles o corpo do filho para lhe prestar as honras fúnebres.

Aquiles e Pentesiléia, c. 540 a.C.
Pentesiléia é morta por Aquiles ao liderar as amazonas, aliadas de Tróia. Só ao matá-la ele percebe sua beleza.
Perto do altar de Apolo é morto por uma seta de Páris - como previra Heitor moribundo -, cuja mão foi guiada pelo deus até o calcanhar do herói.

Ájax e Ulisses demoram um dia para conseguir levar o corpo através do troianos. Seus ossos foram unidos aos de Pátroclo, como era desejo de ambos.
Ou Tétis arrancou o cadáver da pira funerário e levou Aquiles para a Ilha dos Bem-aventurados, dos imortais, onde se uniu a Medéia, ou talvez Ifigênia, ou a mesma Helena. 

Aquiles teria preferido a ação a esse tipo de imortalidade, e só se alegrou ao saber que seu filho ocupou seu lugar na guerra.

Fontes: Karl Kérènyi, Os heróis gregos; Homero, Ilíada

11.6.11

O espírito do tempo presente

Estamos perto do solstício de inverno. No último equinócio conversamos aqui no Espaço Coaraci sobre a moldura arquetípica do período de mudanças que estamos vivendo, em toda a Terra. Este espírito do tempo - Zeitgeist - faz parte de um continuum, é claro, e foi em torno de momentos marcantes dessa sucessão que versou nossa conversa.

O mapa deste equinócio, março de 2011, mostra a configuração desafiadora entre Júpiter, Saturno, Urano e Plutão, que tem estado no céu, de uma forma ou outra, desde o começo do milênio.

Zeus e Hera (Júpiter e Juno)
A moldura social, feita pelos planetas Júpiter e Saturno, é o ciclo iniciado em maio de 2000. Esse ciclo dura 20 anos. Júpiter representa a expansão, e Saturno os limites: dentro destes parâmetros se processa a vida das sociedades humanas. Além do ataque às torres do WTC em NY, e a invasão do Afeganistão, houve o começo da demolição sem aviso prévio de casas palestinas por Israel e o seqüestro do ônibus 174 no Rio, onde a marca de Plutão e Urano afetam os dois planetas sociais, dando o tom do ciclo. A maré vermelha na China, o degelo da Groenlândia, são outra forma de expressão destes mesmos arquétipos dos planetas modernos (visíveis apenas com ajuda de aparelhos). Por outro lado, começa a preocupação com a preservação dos Everglades nos EUA, e do Mar Egeu entre Grécia e Turquia. A 3M deixa de produzir Scotchguard devido aos danos que causa ao ambiente. No Brasil, 200 autoridades são relatadas como envolvidas no tráfico de drogas.

Em 1961, num início de ciclo Júpiter-Saturno, Jânio Quadros tomou posse como presidente do Brasil.

Outro ciclo que se inicia é o de Júpiter e Urano, que dura cerca de 14 anos. Ao mesmo tempo existe uma quadratura entre Júpiter e Plutão (este ciclo também dura cerca de 14 anos, a teve início em 2007). Urano simboliza a mudança, a libertação, e Plutão representa a destruição e regeneração.

Estes três planetas - Júpiter, Urano e Plutão - estavam em conjunção em 1968 (e alguns anos antes e depois), ano muito importante para a história posterior, pelas rebeliões sociais e políticas - pelos direitos civis para os negros nos EUA, pela igualdade das mulheres, contra a guerra do Vietnã, contra as armas nucleares, a greve geral na França, a "primavera de Praga", as revoltas estudantis no Brasil.

Por outro lado, Saturno estava oposto à conjunção dos três planetas, e houve os assassinatos de Martin Luther King e de Robert Kennedy, o massacre de My Lai, a repressão da URSS na Tchecoslováquia, o AI-5 no Brasil. Saturno e Plutão, nestes casos, indicam crise e contração, como no início das duas guerras mundiais do século XX, na ascensão do nazismo e na crise das bolsas de 1929, quando estavam em aspecto tenso.

Em 1968 tivemos portanto a interação entre:
  • Júpiter-Saturno (ciclo de 20 anos)
  • Júpiter-Urano (cerca de 14 anos)
  • Saturno-Urano (cerca de 45 anos)
  • Júpiter-Plutão (cerca de 14 anos)
  • Saturno-Plutão (cerca de 35 anos)
  • Urano-Plutão (cerca de 130 anos)
Deste modo, a época emoldura o tempo presente pela importância do que aconteceu então, e ao mesmo tempo ilustra o que podemos esperar desse começo de século XXI, onde temos aspectos entre:
  • Júpiter-Saturno (em 2001 e em 2011)
  • Júpiter-Urano (em 2010-11)
  • Saturno-Urano (2008 a 2012)
  • Júpiter-Plutão (em 2008 e em 2011)
  • Saturno-Plutão (2008-11)
  • Urano-Plutão (2007- a 2020)
E Netuno, o planeta da integração, dissolução, transcendência?

O ciclo Urano-Netuno (170 anos) começou no final do século XX. Mas a conjunção entre Netuno e Plutão marca períodos definidos da história, pois acontece a cada 495 anos. Estamos no começo - em termos - de uma dessas eras de meio milênio: o século passado começou com essa conjunção, marcando a solidificação do capitalismo financeiro. A era anterior começara na Renascença, que foi também o início do capitalismo comercial, causa da vinda dos europeus para a América.

Uma moldura mais ampla ainda foi a conjunção, única desde que o ser humano registra a história, entre Urano, Netuno e Plutão, em torno de 580 a.C.. Richard Tarnas, cujas indicações estou seguindo neste tema, chama esse período de seminal, pois nele viveram os filósofos gregos pré-socráticos, Buda, Confúcio e, pouco antes, Zoroastro.

2.5.11

Marés da Terra e horário dos meridianos

Nosso corpo possui 12 canais de energia (os meridianos q. trabalhamos nas aulas) e também a Terra possui veios de energia; quando nossos meridianos estão desbloqueados nos harmonizamos com eles.
2/3 de nosso corpo é composto por água, portanto, assim como a Terra, também temos nossas marés:
½ noite = maré da saliva
é bom estar dormindo neste horário, mas se isto não ocorrer este é um bom horário para gerar a água sagrada (o treino da saliva).
½ dia = maré do sangue verdadeiro (o sangue do coração)
o coração deve descansar neste horário para que esta maré se manifeste. A geração da água sagrada, ou simplesmente descansar a ponta da língua no céu da boca ajudam a equilibrar o coração. Neste horário devemos evitar: falar demais ou realizar atividades que tornem o coração inquieto. Devemos evitar a ingestão de álcool ou ficar embaixo do sol.
6 hs da manhã = maré do suco cerebral.
Bom horário para estudar ou para atividades que exijam mais do intelecto.
18 hs = maré da essência
bom horário para o recolhimento, a prece e a meditação. A energia dos rins precisa de descanso neste horário.
A respeito dos horários de cada meridiano
O dia tem 12 horas yin e 12 horas yang. Em cada meridiano a energia predomina por 2 horas; os meridianos são caminhos ligados uns aos outros.
O fluxo da energia pelo nosso corpo começa pelos pulmões ( 3 às 5 hs); é a manifestação do yang no nosso corpo. O bebê e o galo, por serem mais yang, despertam naturalmente neste horário. É um bom horário para meditar e realizar a geração da água sagrada.
Estomago (7 às 9hs)
Melhor horário para o desjejum; tudo que comemos é facilmente digerido.
Baço-Pâncreas (9 às 11 hs)
Em contrapartida este meridiano está com menos energia, mais yin, das 21 às 23 hs.; por este motivo devemos evitar alimentos pesados, gordurosos neste horário. A digestão fica mais lenta, o alimento se transforma com mais facilidade em gordura.
Coração (11 às 13 hs)
O pico é ao ½ dia, quando ocorre a passagem do período yang do dia para o período yin. É útil tirar um cochilo, descansar, gerar saliva (que ajuda a acalmar o fogo falso do coração, gerado pelo turbilhão de emoções). É bom descansar pelo menos por 5 minutos.
Intestino Delgado (13 às 15 hs)
É o par do coração e o primeiro meridiano do período yin do dia. Já devemos começar a diminuir o ritmo, mantendo o coração e a mente mais tranqüilos.
Bexiga (15-17 hs)
Começa o ciclo da água, que culmina com o horário seguinte.
Rins ( 17 as 19 hs)
Transição do claro para o escuro. Às 18 hs, como já foi dito, ocorre a maré da essência; este é o horário do recolhimento, quando os passarinhos voltam para casa, a natureza se recolhe. O cansaço consome muita energia dos rins, por isso é tão importante descansar nesse horário; devemos evitar esportes ou exercícios violentos nesse período.
Pericárdio (19 às 21 hs)
É a membrana que protege o coração; este meridiano está relacionado, portanto, com a proteção do coração.
Triplo Aquecedor (21 às 23 hs)
Este meridiano está ligado aos locais de transformação da energia, que inicia o seu processo neste horário e continuam pelos horários posteriores.
Vesícula Biliar (23 a 1 h)
O pico é a ½ noite (maré da saliva); ligado à transição do yin para o yang .Horário de descanso, para recompor a energia, preparando-nos para um novo dia. Também é um bom horário para o recolhimento e a meditação.
Fígado ( 1 às 3 hs)
Horário em que se fecha um ciclo de energia, para recomeçar um outro, com o meridiano do pulmão.

22.4.11

Sob o signo de Touro

Touro é regido por Vênus, sempre visto perto do Sol a partir da Terra, mas que tem um ciclo de 8 anos de conjunções com o Sol no mesmo ponto do zodíaco.

Miniatura de Brassempouye
Vênus/Afrodite simboliza o arquétipo da união, da harmonia, da intimidade. Representa também a criação de vida nova, a fertilidade feminina. Seus mitos são portanto muito antigos, começando talvez no Paleolítico, como se pode supor a partir das muitas miniaturas femininas encontradas em toda a Velha Europa. Várias são esculpidas em marfim de mamute.

Na mais antiga civilização, a da Suméria, aparece a deusa com seu filho, que se torna seu amante e a fecunda, sendo em seguida sacrificado. Este tema se repete na própria Babilônia com Istar e Dumuz, no Egito com Ísis e Hórus-Osíris, e mais tarde na Grécia com Afrodite e Adônis. A mesma deusa recebe ainda os nomes de Innana, Cibele, Atargatis.

Afrodite (afros = espuma) nasceu, na versão grega mais antiga, da castração de Urano, o céu, por seu filho Crono, que atirou ao mar os genitais do pai. Da espuma surgiu, madura e bela, Afrodite. Mais tarde surge outra versão, mais adequada à ordem patriarcal, em que ela é uma das deusas do Olimpo, subordinada ao rei dos deuses, Zeus.

Hefaístos
Mesmo nessa nova ordem a deusa é livre. Recusa-se a casar com um marido que não seja escolha sua, mas acaba cometendo um equívoco por supervalorizar as capacidades de seu amante Ares, e casa-se com o feio ferreiro coxo de Zeus, Hefaístos. Ele, apesar de tosco e mau-humorado, é um artista maravilhoso, que faz coisas belas e úteis.

O amante de Afrodite (Vênus) é Ares (Marte). São os dois planetas que ladeiam a Terra, para dentro, em direção ao Sol, e para fora, em direção ao espaço, respectivamente.

Afrodite terá também um amante mortal famoso, o belo Adônis, que disputará com Perséfone, a deusa do mundo suberrâneo. Este mito é uma modificação mais recente do antigo, da Mesopotâmia. Adônis aqui não é seu filho, mas um mortal que é sacrificado, morto por um javali, mas retorna sazonalmente, passando parte do ano entre os mortos e parte entre os vivos. Este é um mito de povos agricultores, onde o jovem, seja deus ou mortal, simboliza a semente. A deusa da fertilidade é a deusa da vida-morte, os dois lados do ciclo, inseparáveis. Para a maioria das mitologias de todos os povos, tudo que nasce morrerá, e tudo que morre renascerá.

Afrodite de Melos
Afrodite e o que ela simboliza - o amor e a fertilidade, a união, a beleza, a atração, o magnetismo - será esquecida, perseguida mesmo, até demonizada, em favor da valorização do ascetismo e da castidade durante a Idade Média. Suas correspondentes européias, como Birgitt, serão identificadas com o demônio, e suas seguidoras consideradas bruxas.

Mas no século IX, entre os árabes, surgem os trovadores, que se espalharão pela Europa nos séculos seguintes, trazendo o amor cortês que tomará conta dos corações, da arte, e da imaginação a partir do século XII. São desta época os romances sobre Tristão e Isolda, sobre Parsifal. Este momento, que prepara a Renascença, é também o nascimento do amor pessoal, individual, onde a mulher amada é valorizada, e o amor em si é uma graça divina.

Miniatura de Lespugue
Se o signo de Touro evoca a beleza de Afrodite, lembra também a criatividade de Hefaístos. O mito de Dédalo, arquiteto do labirinto do Minotauro, reflete no mundo humano a atuação deste daimon, como os chamava Sócrates.

Dédalo era um excelente artesão que, por ambição e inveja, cometeu um crime e teve que fugir. Recomeçou sua vida em Creta, a serviço do rei Minos. Creta era o país onde o touro lunar era importante, e Minos era filho de Posídon que o presenteara com um touro branco sagrado. O dever do rei era oferecer o touro em sacrifício ao deus, porque todo rei tem deveres suprapessoais. Mas o touro era muito bonito, e Minos o trocou por outro, pensando que Posídon não perceberia.

Ora, o único pecado que os deuses gregos não perdoam é que um mortal tente se igualar a eles.

Posídon fez a esposa do rei se apaixonar perdidamente pelo touro sagrado, e ela convenceu Dédalo a construir uma vaca oca em que ela pudesse entrar para concretizar sua paixão. Ela deu à luz o Minotauro, meio touro meio homem, e que comia carne humana. Minos reconheceu nisto o castigo divino e, para esconder sua vergonha e proteger o povo, ordenou a Dédalo a construção do labirinto.

O tributo de 7 moças e 7 rapazes que tinham que ser enviados pelos povos submetidos na guerra é uma referência a um momento na história de Creta em que os povos guerreiros já tinham invadido a ilha, onde antes jovens de ambos os sexos viviam em igualdade. O labirinto é um dos símbolos mais antigos do Paleolítico.

Sandro Boticelli, Galeria Uffizzi
Neste mito todos são taurinos: Dédalo, Minos e sua esposa Pasífae, o Minotauro, e Teseu, o herói que matará o Minotauro mais tarde. Cada um representa um aspecto do signo.

Este ano, ao entrar em Touro, o Sol está em bom aspecto com Plutão, o que o coloca em contato com a configuração tensa presente no céu nos últimos e próximos anos, entre Plutão, Urano e Saturno. O fato de ser um aspecto fluente não deixa de trazer a necessidade de mudança profunda para os nascidos no começo do signo.

27.3.11

Sob o signo de Áries

Áries, primeiro signo do ano astrológico, marca o equinócio - de primavera no hemisfério norte e de outono aqui no sul. Seu regente é Marte, cujo ciclo em torno do Sol é de dois anos, e que participa do arquétipo da ação. Seu movimento é direto, súbito e pesado, como o chute, o soco, o empurrão. Essa energia é associada à luta, à guerra - o glifo de Marte é o símbolo do masculino.

Ares
Na Grécia o deus do planeta é Ares, vindo da Cólquida através do norte do Mar Negro e da Trácia, ou seja, de algum lugar da atual Ucrânia, atravessando a Bulgária de hoje. Na Cítia era representado por uma espada, o que é comum nos deuses de povos nômades-pastores vindos do norte da Eurásia.


Na Teogonia, Hesíodo o faz filho de Zeus e Hera, mas não o filho preferido, porque é estourado a ponto de ser muitas vezes derrotado e humilhado. O Marte romano tem mais postura, por assim dizer: os gregos eram soldados corajosos, mas tinham outras profissões em tempos de paz, já os romanos eram soldados profissionais de um povo imperialista. O germano-escandinavo Tiu - de onde vem o nome inglês da terça-feira, dia de Marte - não tinha no panteão a proeminência que os romanos davam ao deus da guerra, apesar de german vir do antigo guerre-man, nome dado por outros a esses povos.

O mito de Áries mais famoso é o Jasão.
Começa antes, quando Frixo e Hele são salvos do sacrifício pelo carneiro de Zeus que os leva para a Cólquida. Hele cai do carneiro voador e falante no Helesponto, mas Frixo recebe acolhida do rei Eetes - filho de Hélios - e mais tarde se casa com sua filha. O carneiro foi sacrificado e sua pele de ouro pendurada em uma árvore no bosque de Ares, que é o bosque da morte, guardado por uma serpente.

Jasão, filho de um herdeiro de trono, foi escondido por seus pais para evitar sua morte, e criado pelo centauro sábio Quíron, que aos 20 anos lhe contou sua origem. Jasão, vestido com uma pele de fera selvagem, voltou a sua cidade natal e no caminho perdeu uma sandália. O rei era seu tio, que usurpara o trono, e a quem um oráculo dissera que devia temer o homem com uma sandália só. Interpelou Jasão, que lhe disse simplesmente que viera reclamar o trono que era seu.

A resposta dada a Jasão era que precisava provar merecer o trono, portanto deveria trazer de volta a pele do carneiro. Jasão recebe ajuda de Atena, a deusa estrategista, que lhe dá Argos, o ligeiro, cuja tripulação de  50 remadores inclui os maiores heróis da Grécia.

A viagem passa pelo Mar Negro e dura muito tempo, com muitas aventuras e desventuras, várias mortes, muitos riscos. Por fim chegam à Cólquida, onde Medéia, filha do rei e poderosa feiticeira, se apaixona por Jasão. Entrando no bosque de Ares, Jasão é devorado pela serpente, mas Medéia, que era imortal, e cujos dons incluíam a capacidade de reviver os mortos, o traz à vida depois que a serpente o vomita.

Nesse ponto da aventura, surge o perigo da volta: o rei o persegue com seus soldados, e Medéia atrasa o pai matando seu próprio irmão e espalhando os pedaços no caminho. O rei se atrasa recolhendo os pedaços do filho, e Argos parte com Jasão e Medéia.

De volta ao lar o rei usurpador é morto e Jasão e Medéia reinam e têm dois filhos loiros como o sol. O mito, porém, é de Áries, e com o tempo Jasão ambiciona anexar o reino vizinho, casando com a filha do rei Creonte. Repudia Medéia, e Creonte a humilha com a expulsão num prazo de 24 horas. Medéia provoca a morte da noiva, do rei, sacrifica seus próprios filhos para isto, e parte lançando uma maldição sobre Jasão.

Jasão envelhece à sombra do Argos que apodrece, nostálgico das aventuras que não pode mais, e morre quando parte deste cai sobre sua cabeça.

Este equinócio de outono coincide com a entrada de Urano em Áries, onde Júpiter já está, ativando novamente a configuração entre signos cardeais que está no céu desde 2009.

16.3.11

Sob o signo de Peixes

Logo mais Netuno, o regente de Peixes, entrará neste signo, o que acontece a cada 165 anos.

Posídon era o deus do mar na Grécia. Irmão de Zeus, portanto um olímpico, teve as águas como quinhão na distribuição dos poderes. Era chamado de Agitador dos Mares, e é responsabilizado pelo terremoto que destruiu Creta. Neste evento estava se vingando da desobediẽncia de Minos, não bastando a anterior, do nascimento do Minotauro. O tridente que é seu símbolo já aparece no selo do iogue de Mohenjo-Daro, e mais tarde em Shiva.

O nome Posídon vem de Creta, e significa senhor da deusa-terra. Era representado como o jovem rei com as duas rainhas, que no fundo são a mesma, a vida-morte, mais tarde simbolizadas na Grécia em Deméter e Perséfone.

Outro mito sobre Posídon o relaciona à Medusa, cujo nome significa Senhora. Ela era uma bela titânide, divindade antiga da terra, mas se tornou medonha, com cabelos de serpentes vivas e olhar que transformava os homens em pedra, após ser estuprada por Posídon. O terror a impedia de dar à luz os dois filhos que trazia em seu ventre, e que só nasceram quando Perseu cortou sua cabeça, sem olhar para ela. Então nasceram Pégaso e Crisaor.

Perseu matando Medusa

O Netuno romano era também deus das fontes.

Mas o lado violento de Posídon não corresponde ao signo de Peixes. Sendo Netuno um planeta moderno - descoberto com a ajuda de telescópio - seu arquétipo não foi inteiramente apreendido pelos astrônomos que o nomearam. Mais parecido com Peixes - a transcendência, atemporalidade, imaterialidade, imaginação, compaixão e dissolução que o caracterizam - é o arquétipo junguiano da anima mundi, e o da Grande Mãe oceânica, a água de onde veio a Vida. Na China é o Tao, na Índia, Vishnu como Oceano Lácteo.

A cada 450 anos Netuno e Plutão se unem no céu, marcando o começo de uma nova época histórica. A nossa começou em torno de 1890, com a ascensão do capitalismo financeiro substituindo o capitalismo industrial.

Quem nasceu no começo de Peixes está com Netuno junto a seu Sol natal, o que é um trânsito marcante.

9.2.11

Sob o signo de Aquário

Este foi o encontro de 15 de janeiro.

O tema foi Urano, regente de Aquário, cujo ciclo - tempo da órbita em torno do Sol, o ano de Urano -  dura 84 anos. Isto faz com que permaneça 7 anos em cada signo.
Prometeu e a águia de Zeus

Urano simboliza o arquétipo da mudança, o inesperado, o excêntrico. Nos mitos gregos Urano é o deus do céu, personificação da abóbada celeste, do céu estrelado. Deus muito distante, é com freqüência substituído - ou representado - pelo titã Prometeu, criatura da terra, da estirpe de Gaia, e protetor dos homens. Prometeu tem características de um superxamã, pois domina o fogo e compete com os deuses do Olimpo.

Na Teogonia, Hesíodo coloca Urano no inicio da cosmogênese, como filho-marido da deusa primordial da Terra, Gaia, esta uma divindade existente quase desde o começo, coexistente com Caos. Gaia e Urano têm 3 filhos, os cíclopes, que por serem imperfeitos Urano devolve ao ventre de Gaia. Faz  o mesmo com os 3 seguintes, os hecatonqueires, e também com cada um dos 6 titãs e 6 titânides iniciais. O resto da história pertence ao arquétipo de Capricórnio, como vimos.

Prometeu, o que vê antes, é mais conhecido por roubar o fogo dos deuses para os homens, mas mesmo este mito começa com um ato matreiro dele, que enganara os deuses nas oferendas. Ele é o trapaceiro (trickster) em outra roupagem.

Os momentos de mudança na história envolvem aspectos planetários onde Urano contato de forma desafiadora Saturno ou Plutão.

Atualmente estamos em um desses períodos, com a oposição entre Saturno e Urano acontecendo entre 20007 e 2012, e a quadratura entre Urano e Plutão entre 2007 e 2020.

Este último aspecto faz parte do ciclo que começou na década de 1960, com a conjunção entre Urano e Plutão. Foram anos de mudanças sociais intensas e profundas, com os movimentos feminista, negro, de jovens e outros.