2.7.16

A prática de ioga cura a ansiedade¿

Esta é uma pergunta que muitos dos alunos trazem ao começar a prática; eu acredito que antes de responder um sim categórico é preciso pesquisar o que é a ansiedade, de onde vem esse sentimento tão comum nos dias de hoje e que tanto sofrimento nos causa. Tenho ouvido muito que ansiedade é excesso de futuro, mas acho essa explicação meio simplista; concordo que uma das características dessa emoção é a pré-ocupação constante com o amanhã, mas de onde vem esse sentimento¿
Na ansiedade estamos sempre tentando controlar os acontecimentos, bem como nossas reações a eles, nossas emoções, o que gera uma constante tensão no corpo e na mente; tentamos controlar porque temos medo de falhar, de perder algo, de não sermos bem sucedidos o bastante, amados o bastante, bons o bastante. Nossos tempos são impiedosos com aqueles que não ostentam o padrão de realização imposto pela sociedade e por isso desde cedo somos pressionados e pressionamos nossas crianças a fazer mais, se destacar mais, não ficar para trás. Esta é uma fonte tremenda de ansiedade, mas há ainda muitos outros fatores: muitas vezes atravessamos períodos em que nos sentimos ameaçados, seja na infância se crescemos em meio a situações difíceis, ou em algum outro momento aonde tivemos que estar constantemente preparados para um perigo iminente. Creio ser importante analisarmos estes fatores, encará-los de frente e ter a consciência que esse momento passou; hoje como adultos podemos lidar de uma forma mais serena com as expectativas, as cobranças e mesmo com as situações em que nos sentimos ameaçados.
Mas esse é o primeiro passo, pois mesmo trazendo para a consciência as raízes de nossa ansiedade, nosso corpo ainda guardará a memória da nossa história...e aí entra a yoga. Ao fazermos as posturas de yoga não estamos apenas trabalhando o corpo físico, mas estamos trabalhando nossos canais energéticos – que a yoga chama de nadhis, e a medicina chinesa de meridianos; estamos permitindo que a energia bloqueada neles comece a ser liberada. Por isso é tão importante observamos nossas sensações, pensamentos e emoções enquanto praticamos; eu particularmente não acredito que a simples execução mecânica das posturas, sem a consciência possa trazer um real benefício para a libertação da ansiedade, ou de qualquer outra emoção aflitiva que carregamos. Por essa razão sempre insisto com os alunos em fazer devagar, sem esforço (pois aí entramos na competição alimentando ainda mais a ansiedade) e observando o que surge, sem julgar, apenas percebendo.
            Os meridianos relacionados com a ansiedade são Estômago e seu par, o Baço-Pâncreas, ligados à energia da terra, ao centro do nosso corpo, à sensação de estar com os pés no chão, apoiados, protegidos pela Grande Mãe. Voltar ao nosso centro é desenvolver presença, estar no Agora,  esse é o grande antídoto contra a ansiedade e o trabalho sobre esses meridianos pode nos auxiliar muito nessa “volta para casa”.
            Outra grande aliada na mudança do estado ansioso é a respiração; simplesmente passar 2-3 minutos por dia, de manhã e à noite observando a respiração, levando-a até o abdômen já traz um efeito extremamente benéfico, mas, sobretudo, reflita na raiz de sua ansiedade e jogue a luz da consciência sobre o que até então era um comportamento automático.
            Deixe abaixo suas dúvidas, críticas e comentários, assim poderemos refletir juntos! 

            

1.7.16

Yoga e o conhecimento de si


Patanjali, no Yoga Sutra, descreve no segundo capítulo os meios para atingir a união, o que inclui os oito membros da prática.


Os dois primeiros são as cinco disciplinas éticas e as cinco disciplinas individuais. Ambas se aplicam a todas as pessoas, mesmo às que não escolhem seguir o caminho do yoga.

As disciplinas éticas são de âmbito mundial: não-violência, ser verdadeiro, não roubar, continência e não cobiçar. Conhecemos as duas primeiras através da ação de Mahatma Ghandi. As disciplinas individuais são pureza, contentamento, austeridade, estudo de si e dedicação ao divino.

Os outros membros do yoga são asanas, treinamento da energia, interiorização dos sentidos, concentração numa só tarefa e integração com o espírito universal.


Vou focalizar uma disciplina individual, o estudo de si, ou conhecimento de si – Svadhyaya, em sânscrito, educação no sentido literal, trazer para fora o que há de melhor em uma pessoa.

O "eu" na Índia e no ocidente


Para os hindus o eu, no sentido de ego, é infantil e deve dar lugar ao ser verdadeiro, que chamaremos, com Jung, de Si-Mesmo. Portanto eles veem o estudo de si como o reconhecimento do divino interior. Toda a sociedade indiana está baseada em normas de comportamento que devem abafar a expressão deste ego desejante e incutir no indivíduo as responsabilidades inerentes à posição que ocupa.


Ao trazer a prática de yoga para o ocidente precisamos rever o conceito de indivíduo que surgiu na Grécia há cerca de 2.500 anos e se tornou a visão ocidental do eu. O indivíduo amadurece no decorrer da vida ao assumir responsabilidade pessoal pelas escolhas que faz. Nossa cultura deu muita importância ao livre-arbítrio, hoje um tanto mal compreendido e substituído apenas por livre, sem arbítrio, o que merece por si mesmo outra conversa.

 
Método GDS

Diz-se que os sistemas filosóficos sânquia, que é inseparável do yoga, e budista, são mais psicologia que metafísica. Têm muito em comum. Já as nossas psicologias ocidentais são muitas, variadas, baseadas em concepções filosóficas conflitantes, muitas vezes. Quando nós, ocidentais, pensamos em conhecer a si mesmo, temos em mente alguma destas nossas psicologias. Entre elas, algumas favorecem o florescimento pessoal, a educação no sentido usado acima. Infelizmente muitas das psicologias correntes são empobrecedoras do indivíduo, apenas ferramentas para adaptá-lo ao mundo externo.


Escolhi uma das muitas que podem ser úteis ao conhecimento de si, e a escolhi porque permite deduzir muitas coisas a partir da observação corporal. Descreve uma tipologia físico-psíquica, portanto é simplificadora, como toda categorização. E, como sempre, ninguém é um tipo puro, somos misturas em quantidades diferentes de vários tipos. Esta coloca cinco tipos básicos, dos quais vou citar muito resumidamente as características e – muito importante – o lado positivo “embutido” na pessoa e que é sua riqueza oculta. Este resumo foi feito a partir do livro Mãos de luz, de Barbara Ann Brennan.
Anatomia emocional de Stanley Keleman


O tipo 1 se queixa de medo e/ou ansiedade. Fisicamente é alongado, assimétrico, tem juntas fracas, mãos e pés frios. É hiperativo, mas sem base. Intelectualizado, comunica-se por absolutos, sua linguagem é despersonalizada. Defende-se recuando para longe, ficando ausente ou sendo hostil ao contato.

Riqueza interior do tipo 1: são muito espirituais, têm um senso do propósito mais profundo da vida. Muito criativos, têm muitos talentos e idéias. Podem ser comparados a uma mansão com muitas salas, cada uma ricamente decorada num estilo ou cultura diferentes, mas que não se comunicam entre si. O tipo 1 precisa se integrar, construir portas entre suas belas salas. Necessita enfrentar seu terror e sua fúria íntima, que o impedem de materializar sua enorme criatividade. Sua espiritualidade pode se expressar através da criatividade artística.


O tipo 2 se queixa de passividade e/ou cansaço. Fisicamente é magro, de peito afundado, tem músculos macios e fracos, peito frio. Hipoativo, com pouca energia. Comunica-se por perguntas, sua linguagem é indireta, leva a outra pessoa a protegê-lo maternalmente. Defende-se falando compulsivamente ou sugando a atenção de outros.

Riqueza interior do tipo 2: podem ser comparados a um belo instrumento musical, como um Stradivarius, que precisam afinar cuidadosamente para compor sua sinfonia única de vida. Quando aprender a confiar na abundância do universo e inverter o processo de se agarrar, quando aprender a dar, vai renunciar ao papel de vítima e agradecer o que consegue. Ao enfrentar o medo de ficar só vai mergulhar no vazio interior e encontrá-lo cheio de vida. Pode usar sua inteligência nas artes ou nas ciências, e será um mestre natural, porque se interessa por muitas coisas e pode ligar o que sabe ao amor que vem do coração.

O tipo 3 se queixa de se sentir derrotado. Fisicamente é mais pesado em cima do que embaixo, tem o peito inchado, a parte inferior do corpo é tensa, pernas e pelve são frias. Hiperatividade seguida de colapso. Sua linguagem é direta e manipuladora, levando a outra pessoa a se submeter.Defende-se dominando mentalmente o outro, retendo-o sob seu controle verbal aparentemente lógico.
Riqueza interior do tipo 3: cheio de fantasias e de aventuras de honra, onde vencem os mais verdadeiros e sinceros, num mundo de valores nobres sustentados pela perseverança e o valor, seu anseio é trazer tudo isto ao mundo real. Encontra a verdadeira entrega quando desiste de dominar os outros e estabelece contato com amigos: então passa a se sentir como um ser humano. Profundamente, é sincero e íntegro, e seu intelecto desenvolvido pode resolver desavenças ajudando outros a encontrar a própria verdade. É excelente no manejo de projetos complicados e tem um coração enorme.


O tipo 4 se queixa de tensão. É fisicamente pesado, a cabeça pende para a frente, é compactado, tem nádegas frias. Hipoativo, sua energia é interiorizada. Sua linguagem é de chorosa repulsa, controla ou manipula indiretamente usando expressões polidas, levando os outros a arreliá-lo. Defende-se atraindo a compaixão de outras pessoas, fechando-se em cisma silenciosa ostensiva ou disparando setas verbais.

Riqueza interior do tipo 4: como a prata e o ouro filigranados, sua criatividade se manifesta em desenhos intrincados, delicados, distintos, onde cada matiz importa. Quando se liberta de sua agressão e do medo de ser humilhado, expressa ativamente sua fantasia. Cheio de desvelo pelos outros, é um negociador natural, apoiador, com um enorme coração cheio de energia e compreensão para dar. Dotado de profunda compaixão e suavidade, tem também grande capacidade para se divertir e alegrar.

O tipo 5 se queixa de não ter sentimentos. Fisicamente tem as costas rígidas e a pelve para trás, é tenso, com regiões enrijecidas espalhadas pelo corpo, tem a pelve fria. Hiperativo, com energia alta. Comunica-se qualificando, sua linguagem é sedutora, levando os outros a competir com ele. Defende-se com demonstrações de superioridade, seja fortalecendo seus limites para se afastar, seja exibindo força de vontade controlada, ou mesmo em uma explosão histérica.

Riqueza interior do tipo 5: seu interior encerra aventura, paixão e amor, montanhas para escalar, causas para defender. Como nos mitos, voará até o sol, libertará povos; inspirará outros com sua paixão pela vida, será um líder natural. Quando permitir que seus sentimentos fluam e sejam vistos, quando partilhar o que quer que sinta, será capaz de um contato profundo com as pessoas e com o universo, onde brincará, desfrutando plenamente a vida.

Lembrete: cada um de nós é uma mistura de tipos, e esta é uma das tipologias que podem ser usadas para ajudar no conhecimento de si.