A prática
de yoga tem oito “pernas” – ashtanga – mas as
duas primeiras, yama e niyama, são mandamentos
básicos, como os dez do cristianismo: são para todas as pessoas,
pratiquem yoga ou não.
São cinco yamas – ahimsa, satya, asteya, brahmacharya e aparigraha – e cinco niyamas – saucha, santosa, tapas, svadhyaya e Ishvara pranidama.
Svadhyaya
é o estudo do eu (sva).
B.K.S. Iyengar ensinou que este estudo é objeto da jñana
yoga, yoga
da sabedoria, do discernimento.
A filosofia associada ao yoga é sankhya, uma psicologia do ser humano. Na Índia, como em toda a tradição oriental, não existe um conceito de ego como temos no ocidente. Na estrutura de castas hindu cada pessoa tem os deveres da casta em que nasceu, deve cumpri-los e seguir os preceitos de seu guru. O Eu nestas filosofias é suprapessoal, C.G. Jung o chamou de Si Mesmo (Selbst).
Para nós, ocidentais, svadhyaya significa autoconhecimento, numa perspectiva da psicologia profunda, isto é, não o conhecimento do ego, mas da totalidade da psique, em camadas sucessivas que se aproximam do Si Mesmo.
A primeira camada, o ego ou eu (assim mesmo, minúsculo) tem ainda uma subcamada, a máscara: a face que mostramos ao mundo, e cada um de nós sabe que é muito mais que só isso. O ego é “aquilo em mim que diz eu”, o centro da consciência. Mutável, porque nunca somos os mesmos durante toda a vida, em todos o momentos e todos os lugares. Aprendemos coisas, esquecemos coisas: a consciência e o inconsciente estão em ligação dinâmica.
A segunda camada é a sombra. Aquilo que não queremos ver, para o qual não olhamos, mas que é parte de nós. “Conhece muito quem conhece a própria sombra” (Jung). Isto é svadhyaya.
O texto que segue é de Erich Neumann, em Psicologia profunda e nova ética.
Assumir o mal
Apresenta-se
ao indivíduo a necessidade de “aceitar” seu próprio mal. Esta
afirmação pode a princípio parecer ininteligível; em todo caso,
seu alcance não se pode medir em absoluto à primeira vista. … A
valorização e a responsabilidade grupais cessam ali onde nenhuma
aprovação procedente da norma comum diminui para o eu a evidência
de ter agido mal, e onde, ao contrário, o julgamento com um critério
coletivo não deve nem pode substituir a orientação do próprio eu.
A distinção entre o meu mal e o mal geral é uma parte essencial do autoconhecimento, do qual não pode se eximir ninguém em um processo de individuação. Com esta individuação, porém, a antiga tendência de aperfeiçoamento do eu se quebra definitivamente. Deve ser sacrificada a exaltação inflacionária do eu e este se vê obrigado a chegar a alguma forma de “acordo de cavalheiros” com a Sombra.
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