Valéria em Paschimottanasana |
A prática da Hatha Yoga
Inicialmente
eu pratiquei hatha yoga querendo atingir alguma coisa. Assim,
ansiava que as posturas saíssem, queria alcançar o melhor de mim
mesma.
Tive
um problema muscular, com muita dor, mas pensava: isso é normal, faz
parte do processo. Vendo que esse problema não cessava, procurei um
massagista e foi então que meu corpo percebeu algo. Um toque mais
duro, incisivo - mais yang, como diriam os chineses -
provocava uma reação mais imediata, física, enquanto o toque mais
leve, mais sutil, produzia profundas reações emocionais. Era como
se eles me embalassem, protegessem, dizendo: "você está em
segurança; sinta, seja!"
Comecei
a ler, pesquisar e experimentar no meu corpo e na minha mente um
trabalho onde esta característica mais sutil preponderasse. Vi a
relação entre o pensamento chinês e o indiano no professor Hiroshi
Motoyama e a partir daí me senti à vontade para pesquisar no
Zen Shiatsu.
Encontrei o conceito fantástico de que onde nos falta energia
(regiões mais flácidas, alongamentos que alcançamos com mais
facilidade) está a raiz, a essência de nossos problemas. O problema
é "o que nos falta", aquilo que não temos consciência.
Normalmente
nossa consciência volta-se para regiões tensas, doloridas, onde há
excesso de energia, os alongamentos são mais difíceis - aquelas
posturas que não conseguimos fazer (dentro da hatha yoga).
Nossa tendência é nos concentrarmos mais ainda nessas partes,
lutarmos com elas, ou melhor: contra a tensão, a resistência que
nelas encontramos.
Nossa
energia acompanha o nosso olhar, a nossa atenção. Nesta prática,
portanto, energizamos cada vez mais aquilo que já está repleto.
Provavelmente vamos nos tornando cada vez mais unilaterais. Toda
consciência numa parte e o resto deixado na sombra da consciência.
Este é o caminho preponderante no nosso tempo: o jeito masculino de
"enfrentar a vida". Deve haver um outro modo de "viver
a vida" e de praticar hatha yoga.
Por
que não trazermos as virtudes femininas da paciência e
receptividade para nosso trabalho? Esta me parece a proposta do Zen
Shiatsu e é o que venho tentando fazer. Faço as asanas
observando meu corpo e respirando. Tento deixar a mente atenta no que
está ocorrendo, ouvindo meu corpo. Não brigo com a dor, nem com
qualquer outra resistência que meu corpo apresente. Tento
simplesmente observar, não querendo alcançar nenhuma meta, nenhum
resultado. Tento apenas estar presente aqui e agora. Fico mais tempo
nas posturas que me dão mais prazer, as mais fáceis para mim, me
permitindo sentir.
E
me vêm tantas sensações! (nem sempre agradáveis, diga-se de
passagem).
Não tem sido um caminho fácil; sempre me percebo com a tentação de me deixar levar pelo orgulho e perseguir um objetivo exterior (fazer "melhor", cronometrar o tempo que agüento ficar em cada postura, para bater depois meu próprio recorde, etc...).
É um caminho solitário, imensurável, interminável. Relendo anotações de um livro de Thérèse Bertherat encontrei a seguinte frase: "Na vida estou cada vez menos fazendo de conta". É isso aí!
Nota: a prática de yoga e meditação é reconhecida pela medicina ocidental como benéfica à saúde. A mudança de hábitos, alimentares e outros, vem naturalmente com a prática.
namastê
Valéria
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