19.10.13

Yoga

Valéria em Paschimottanasana

A prática da Hatha Yoga

 

Inicialmente eu pratiquei hatha yoga querendo atingir alguma coisa. Assim, ansiava que as posturas saíssem, queria alcançar o melhor de mim mesma.
Tive um problema muscular, com muita dor, mas pensava: isso é normal, faz parte do processo. Vendo que esse problema não cessava, procurei um massagista e foi então que meu corpo percebeu algo. Um toque mais duro, incisivo - mais yang, como diriam os chineses - provocava uma reação mais imediata, física, enquanto o toque mais leve, mais sutil, produzia profundas reações emocionais. Era como se eles me embalassem, protegessem, dizendo: "você está em segurança; sinta, seja!"
 
Comecei a ler, pesquisar e experimentar no meu corpo e na minha mente um trabalho onde esta característica mais sutil preponderasse. Vi a relação entre o pensamento chinês e o indiano no professor Hiroshi Motoyama e a partir daí me senti à vontade para pesquisar no Zen Shiatsu. Encontrei o conceito fantástico de que onde nos falta energia (regiões mais flácidas, alongamentos que alcançamos com mais facilidade) está a raiz, a essência de nossos problemas. O problema é "o que nos falta", aquilo que não temos consciência. 
 
Normalmente nossa consciência volta-se para regiões tensas, doloridas, onde há excesso de energia, os alongamentos são mais difíceis - aquelas posturas que não conseguimos fazer (dentro da hatha yoga). Nossa tendência é nos concentrarmos mais ainda nessas partes, lutarmos com elas, ou melhor: contra a tensão, a resistência que nelas encontramos. 
 
Nossa energia acompanha o nosso olhar, a nossa atenção. Nesta prática, portanto, energizamos cada vez mais aquilo que já está repleto. Provavelmente vamos nos tornando cada vez mais unilaterais. Toda consciência numa parte e o resto deixado na sombra da consciência. Este é o caminho preponderante no nosso tempo: o jeito masculino de "enfrentar a vida". Deve haver um outro modo de "viver a vida" e de praticar hatha yoga
 
Por que não trazermos as virtudes femininas da paciência e receptividade para nosso trabalho? Esta me parece a proposta do Zen Shiatsu e é o que venho tentando fazer. Faço as asanas observando meu corpo e respirando. Tento deixar a mente atenta no que está ocorrendo, ouvindo meu corpo. Não brigo com a dor, nem com qualquer outra resistência que meu corpo apresente. Tento simplesmente observar, não querendo alcançar nenhuma meta, nenhum resultado. Tento apenas estar presente aqui e agora. Fico mais tempo nas posturas que me dão mais prazer, as mais fáceis para mim, me permitindo sentir. 
 
E me vêm tantas sensações! (nem sempre agradáveis, diga-se de passagem).

Não tem sido um caminho fácil; sempre me percebo com a tentação de me deixar  levar pelo orgulho e perseguir um objetivo exterior (fazer "melhor", cronometrar o tempo que agüento ficar em cada postura, para bater depois meu próprio recorde, etc...).
É um caminho solitário, imensurável, interminável. Relendo anotações de um livro de Thérèse Bertherat encontrei a seguinte frase: "Na vida estou cada vez menos fazendo de conta". É isso aí!

Nota: a prática de yoga e meditação é reconhecida pela medicina ocidental como benéfica à saúde. A mudança de hábitos, alimentares e outros, vem naturalmente com a prática.

namastê
Valéria


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