6.10.13

A caixa de Pandora


Encontrei várias versões desse mito na rede, cada uma diferente, a maioria sem semelhança com as fontes clássicas que li. Por isso resolvi contar outra versão.

Pandora aparece pela primeira vez, na literatura, em Hesíodo: na Teogonia não tem nome, em Os trabalhos e os dias é nomeada, mas nos dois é a mesma figura negativa.

Prometeu enganara os deuses pela segunda vez, roubando o fogo e dando-o aos homens. Por vingança Zeus mandou Hefesto fazer do barro uma moça, que Atena adornou com todos os dons e Afrodite com a beleza, e que era “pura malícia”, dom recebido de Hermes. Ela foi a primeira mulher, da qual vieram todas, “que vivem entre os homens para lhes trazer problemas”... pois “têm a natureza de fazer o mal”.

Hermes a leva como presente a Epimeteu, irmão de Prometeu, que a recebe. (Alguns autores dizem que é Prometeu quem se casa com ela.) Pandora, “a que é dotada de tudo”, ou talvez "a doadora de tudo", em casa de Epimeteu, abre o grande jarro de estocar mantimentos – não caixa, isso foi um erro de tradução de Erasmo de Roterdã – onde Zeus prendera todos os males do mundo. Assim se soltam no mundo as doenças, morte, trabalho, sofrimento, todas as pragas e males, enfim, exceto a esperança (ou seria expectativa?), que fica presa no jarro.

Vaso do séc. V a.C.
Ashmolean Museum, Oxford
Antes das fontes escritas, existiu outra versão do mito de Pandora, que aparece nas pinturas em vaso.

Jane Ellen Harrison há um século e Dora e Erwin Panofsky mais recentemente falam da inversão do mito: uma deusa da terra, “ a que tudo doa”, com um grande vaso onde estão todas as coisas boas, que era aberto num ritual. A imagem de vaso do período clássico mostra o anodos, a subida da terra, que é comum a deusas Mãe-Terra, como Gaia.

Pandora, por Fê Beretta

A inversão do mito ocorre para justificar uma nova ordem, na qual um povo guerreiro, portanto patriarcal, com deuses masculinos, submete um povo agricultor, onde a mulher participa da natureza da deusa, como conhecedora dos alimentos, das plantas que curam, dos saberes, enfim, da Deusa-Terra. O novo mito demoniza a deusa do povo vencido, apresentando-a como a causa do mal. 

Ligada ao mito de Prometeu, que por sua vez está relacionado ao signo de Aquário, Pandora participa da natureza desse titã xamânico, também uma criatura da terra. Devo a minha amiga Zila a percepção de que a imagem da constelação de Aquarius é um homem despejando água de um grande vaso.

Aquarius, seg. Hevelius












Para saber mais: 
Lost goddesses of early Greece, Charlene Spretnak

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