Encontrei várias
versões desse mito na rede, cada uma diferente, a maioria sem
semelhança com as fontes clássicas que li. Por isso resolvi contar
outra versão.
Pandora aparece pela
primeira vez, na literatura, em Hesíodo: na Teogonia não tem nome,
em Os trabalhos e os dias é nomeada, mas nos dois é a mesma figura
negativa.
Prometeu enganara os
deuses pela segunda vez, roubando o fogo e dando-o aos homens. Por
vingança Zeus mandou Hefesto fazer do barro uma moça, que Atena
adornou com todos os dons e Afrodite com a beleza, e que era “pura
malícia”, dom recebido de Hermes. Ela foi a primeira mulher, da
qual vieram todas, “que vivem entre os homens para lhes trazer
problemas”... pois “têm a natureza de fazer o mal”.
Hermes a leva como
presente a Epimeteu, irmão de Prometeu, que a recebe. (Alguns
autores dizem que é Prometeu quem se casa com ela.) Pandora, “a
que é dotada de tudo”, ou talvez "a doadora de tudo", em casa de Epimeteu, abre o grande jarro de
estocar mantimentos – não caixa, isso foi um erro de tradução de
Erasmo de Roterdã – onde Zeus prendera todos os males do mundo.
Assim se soltam no mundo as doenças, morte, trabalho, sofrimento,
todas as pragas e males, enfim, exceto a esperança (ou seria
expectativa?), que fica presa no jarro.
Vaso do séc. V a.C. Ashmolean Museum, Oxford |
Jane Ellen Harrison há
um século e Dora e Erwin Panofsky mais recentemente falam da
inversão do mito: uma deusa da terra, “ a que tudo doa”, com um
grande vaso onde estão todas as coisas boas, que era aberto num
ritual. A imagem de vaso do período clássico mostra o anodos, a
subida da terra, que é comum a deusas Mãe-Terra, como Gaia.
A inversão do mito ocorre para justificar uma nova ordem, na qual um povo guerreiro, portanto patriarcal, com deuses masculinos, submete um povo agricultor, onde a mulher participa da natureza da deusa, como conhecedora dos alimentos, das plantas que curam, dos saberes, enfim, da Deusa-Terra. O novo mito demoniza a deusa do povo vencido, apresentando-a como a causa do mal.
Pandora, por Fê Beretta |
A inversão do mito ocorre para justificar uma nova ordem, na qual um povo guerreiro, portanto patriarcal, com deuses masculinos, submete um povo agricultor, onde a mulher participa da natureza da deusa, como conhecedora dos alimentos, das plantas que curam, dos saberes, enfim, da Deusa-Terra. O novo mito demoniza a deusa do povo vencido, apresentando-a como a causa do mal.
Ligada ao mito de Prometeu, que por sua vez está relacionado ao signo de Aquário, Pandora participa da natureza desse titã xamânico, também uma criatura da terra. Devo a minha amiga Zila a percepção de que a imagem da constelação de Aquarius é um homem despejando água de um grande vaso.
Aquarius, seg. Hevelius |
Para saber mais:
Lost goddesses of early Greece, Charlene Spretnak
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