Patanjali,
no Yoga Sutra, descreve no segundo capítulo os meios para atingir a
união, o que inclui os oito membros da prática.
Os
dois primeiros são as cinco disciplinas éticas e as cinco
disciplinas individuais. Ambas se aplicam a todas as pessoas, mesmo
às que não escolhem seguir o caminho do yoga.
As
disciplinas éticas são de âmbito mundial: não-violência, ser
verdadeiro, não roubar, continência e não cobiçar. Conhecemos as
duas primeiras através da ação de Mahatma Ghandi. As disciplinas
individuais são pureza, contentamento, austeridade, estudo de si e
dedicação ao divino.
Os
outros membros do yoga são asanas, treinamento da energia,
interiorização dos sentidos, concentração numa só tarefa e
integração com o espírito universal.
Vou
focalizar uma disciplina individual, o estudo de si, ou conhecimento
de si – Svadhyaya, em sânscrito, educação no sentido
literal, trazer para fora o que há de melhor em uma pessoa.
O "eu" na Índia e no ocidente
Para os hindus o eu, no
sentido de ego, é infantil e deve dar lugar ao ser verdadeiro, que
chamaremos, com Jung, de Si-Mesmo. Portanto eles veem o estudo de si
como o reconhecimento do divino interior. Toda a sociedade indiana
está baseada em normas de comportamento que devem abafar a expressão
deste ego desejante e incutir no indivíduo as responsabilidades
inerentes à posição que ocupa.
Ao
trazer a prática de yoga para o ocidente precisamos rever o conceito
de indivíduo que surgiu na Grécia há cerca de 2.500 anos e se
tornou a visão ocidental do eu. O indivíduo amadurece no decorrer
da vida ao assumir responsabilidade pessoal pelas escolhas que faz.
Nossa cultura deu muita importância ao livre-arbítrio, hoje um
tanto mal compreendido e substituído apenas por livre, sem arbítrio,
o que merece por si mesmo outra conversa.
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Método GDS |
Diz-se
que os sistemas filosóficos sânquia, que é inseparável do yoga, e
budista, são mais psicologia que metafísica. Têm muito em comum.
Já as nossas psicologias ocidentais são muitas, variadas, baseadas
em concepções filosóficas conflitantes, muitas vezes. Quando nós,
ocidentais, pensamos em conhecer a si mesmo, temos em mente alguma
destas nossas psicologias. Entre elas, algumas favorecem o
florescimento pessoal, a educação no sentido usado acima.
Infelizmente muitas das psicologias correntes são empobrecedoras do
indivíduo, apenas ferramentas para adaptá-lo ao mundo externo.
Escolhi
uma das muitas que podem ser úteis ao conhecimento de si, e a
escolhi porque permite deduzir muitas coisas a partir da observação
corporal. Descreve uma tipologia físico-psíquica, portanto é
simplificadora, como toda categorização. E, como sempre, ninguém é
um tipo puro, somos misturas em quantidades diferentes de vários
tipos. Esta coloca cinco tipos básicos, dos quais vou citar muito
resumidamente as características e – muito importante – o lado
positivo “embutido” na pessoa e que é sua riqueza oculta. Este
resumo foi feito a partir do livro Mãos de luz, de Barbara
Ann Brennan.
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Anatomia emocional de Stanley Keleman |
O tipo 1 se queixa de
medo e/ou ansiedade. Fisicamente é alongado, assimétrico, tem
juntas fracas, mãos e pés frios. É hiperativo, mas sem base.
Intelectualizado, comunica-se por absolutos, sua linguagem é
despersonalizada. Defende-se recuando para longe, ficando ausente ou
sendo hostil ao contato.
Riqueza
interior do tipo 1: são muito espirituais, têm um senso do
propósito mais profundo da vida. Muito criativos, têm muitos
talentos e idéias. Podem ser comparados a uma mansão com muitas
salas, cada uma ricamente decorada num estilo ou cultura diferentes,
mas que não se comunicam entre si. O tipo 1 precisa se integrar,
construir portas entre suas belas salas. Necessita enfrentar seu
terror e sua fúria íntima, que o impedem de materializar sua enorme
criatividade. Sua espiritualidade pode se expressar através da
criatividade artística.
O tipo 2 se queixa de
passividade e/ou cansaço. Fisicamente é magro, de peito afundado,
tem músculos macios e fracos, peito frio. Hipoativo, com pouca
energia. Comunica-se
por perguntas, sua linguagem é indireta, leva a outra pessoa a
protegê-lo maternalmente. Defende-se falando compulsivamente ou
sugando a atenção de outros.
Riqueza
interior do tipo 2: podem ser comparados a um belo instrumento
musical, como um Stradivarius, que precisam afinar cuidadosamente
para compor sua sinfonia única de vida. Quando aprender a confiar na
abundância do universo e inverter o processo de se agarrar, quando
aprender a dar, vai renunciar ao papel de vítima e agradecer o que
consegue. Ao enfrentar o medo de ficar só vai mergulhar no vazio
interior e encontrá-lo cheio de vida. Pode usar sua inteligência
nas artes ou nas ciências, e será um mestre natural, porque se
interessa por muitas coisas e pode ligar o que sabe ao amor que vem
do coração.
O tipo 3 se queixa
de se sentir derrotado. Fisicamente é mais pesado em cima do que
embaixo, tem o peito inchado, a parte inferior do corpo é tensa,
pernas e pelve são frias. Hiperatividade seguida de colapso. Sua
linguagem é direta e manipuladora, levando a outra pessoa a se
submeter.Defende-se
dominando mentalmente o outro, retendo-o sob seu controle verbal
aparentemente lógico.
Riqueza
interior do tipo 3: cheio de fantasias e de aventuras de honra, onde
vencem os mais verdadeiros e sinceros, num mundo de valores nobres
sustentados pela perseverança e o valor, seu anseio é trazer tudo
isto ao mundo real. Encontra a verdadeira entrega quando desiste de
dominar os outros e estabelece contato com amigos: então passa a se
sentir como um ser humano. Profundamente, é sincero e íntegro, e
seu intelecto desenvolvido pode resolver desavenças ajudando outros
a encontrar a própria verdade. É excelente no manejo de projetos
complicados e tem um coração enorme.
O tipo 4 se queixa de
tensão. É fisicamente pesado, a cabeça pende para a frente, é
compactado, tem nádegas frias. Hipoativo, sua energia é
interiorizada. Sua
linguagem é de chorosa repulsa, controla ou manipula indiretamente
usando expressões polidas, levando os outros a arreliá-lo. Defende-se atraindo a compaixão de outras pessoas,
fechando-se em cisma silenciosa ostensiva ou disparando setas
verbais.
Riqueza
interior do tipo 4: como a prata e o ouro filigranados, sua
criatividade se manifesta em desenhos intrincados, delicados,
distintos, onde cada matiz importa. Quando se liberta de sua agressão
e do medo de ser humilhado, expressa ativamente sua fantasia. Cheio
de desvelo pelos outros, é um negociador natural, apoiador, com um
enorme coração cheio de energia e compreensão para dar. Dotado de
profunda compaixão e suavidade, tem também grande capacidade para
se divertir e alegrar.
O tipo 5 se queixa
de não ter sentimentos. Fisicamente tem as costas rígidas e a pelve
para trás, é tenso, com regiões enrijecidas espalhadas pelo corpo,
tem a pelve fria. Hiperativo, com energia alta. Comunica-se
qualificando, sua linguagem é sedutora, levando os outros a competir
com ele. Defende-se com
demonstrações de superioridade, seja fortalecendo seus limites para
se afastar, seja exibindo força de vontade controlada, ou mesmo em
uma explosão histérica.
Riqueza
interior do tipo 5: seu interior encerra aventura, paixão e amor,
montanhas para escalar, causas para defender. Como nos mitos, voará
até o sol, libertará povos; inspirará outros com sua paixão pela
vida, será um líder natural. Quando permitir que seus sentimentos
fluam e sejam vistos, quando partilhar o que quer que sinta, será
capaz de um contato profundo com as pessoas e com o universo, onde
brincará, desfrutando plenamente a vida.
Lembrete: cada um de nós é
uma mistura de tipos, e esta é uma das tipologias que podem
ser usadas para ajudar no conhecimento de si.