1.7.16

Yoga e o conhecimento de si


Patanjali, no Yoga Sutra, descreve no segundo capítulo os meios para atingir a união, o que inclui os oito membros da prática.


Os dois primeiros são as cinco disciplinas éticas e as cinco disciplinas individuais. Ambas se aplicam a todas as pessoas, mesmo às que não escolhem seguir o caminho do yoga.

As disciplinas éticas são de âmbito mundial: não-violência, ser verdadeiro, não roubar, continência e não cobiçar. Conhecemos as duas primeiras através da ação de Mahatma Ghandi. As disciplinas individuais são pureza, contentamento, austeridade, estudo de si e dedicação ao divino.

Os outros membros do yoga são asanas, treinamento da energia, interiorização dos sentidos, concentração numa só tarefa e integração com o espírito universal.


Vou focalizar uma disciplina individual, o estudo de si, ou conhecimento de si – Svadhyaya, em sânscrito, educação no sentido literal, trazer para fora o que há de melhor em uma pessoa.

O "eu" na Índia e no ocidente


Para os hindus o eu, no sentido de ego, é infantil e deve dar lugar ao ser verdadeiro, que chamaremos, com Jung, de Si-Mesmo. Portanto eles veem o estudo de si como o reconhecimento do divino interior. Toda a sociedade indiana está baseada em normas de comportamento que devem abafar a expressão deste ego desejante e incutir no indivíduo as responsabilidades inerentes à posição que ocupa.


Ao trazer a prática de yoga para o ocidente precisamos rever o conceito de indivíduo que surgiu na Grécia há cerca de 2.500 anos e se tornou a visão ocidental do eu. O indivíduo amadurece no decorrer da vida ao assumir responsabilidade pessoal pelas escolhas que faz. Nossa cultura deu muita importância ao livre-arbítrio, hoje um tanto mal compreendido e substituído apenas por livre, sem arbítrio, o que merece por si mesmo outra conversa.

 
Método GDS

Diz-se que os sistemas filosóficos sânquia, que é inseparável do yoga, e budista, são mais psicologia que metafísica. Têm muito em comum. Já as nossas psicologias ocidentais são muitas, variadas, baseadas em concepções filosóficas conflitantes, muitas vezes. Quando nós, ocidentais, pensamos em conhecer a si mesmo, temos em mente alguma destas nossas psicologias. Entre elas, algumas favorecem o florescimento pessoal, a educação no sentido usado acima. Infelizmente muitas das psicologias correntes são empobrecedoras do indivíduo, apenas ferramentas para adaptá-lo ao mundo externo.


Escolhi uma das muitas que podem ser úteis ao conhecimento de si, e a escolhi porque permite deduzir muitas coisas a partir da observação corporal. Descreve uma tipologia físico-psíquica, portanto é simplificadora, como toda categorização. E, como sempre, ninguém é um tipo puro, somos misturas em quantidades diferentes de vários tipos. Esta coloca cinco tipos básicos, dos quais vou citar muito resumidamente as características e – muito importante – o lado positivo “embutido” na pessoa e que é sua riqueza oculta. Este resumo foi feito a partir do livro Mãos de luz, de Barbara Ann Brennan.
Anatomia emocional de Stanley Keleman


O tipo 1 se queixa de medo e/ou ansiedade. Fisicamente é alongado, assimétrico, tem juntas fracas, mãos e pés frios. É hiperativo, mas sem base. Intelectualizado, comunica-se por absolutos, sua linguagem é despersonalizada. Defende-se recuando para longe, ficando ausente ou sendo hostil ao contato.

Riqueza interior do tipo 1: são muito espirituais, têm um senso do propósito mais profundo da vida. Muito criativos, têm muitos talentos e idéias. Podem ser comparados a uma mansão com muitas salas, cada uma ricamente decorada num estilo ou cultura diferentes, mas que não se comunicam entre si. O tipo 1 precisa se integrar, construir portas entre suas belas salas. Necessita enfrentar seu terror e sua fúria íntima, que o impedem de materializar sua enorme criatividade. Sua espiritualidade pode se expressar através da criatividade artística.


O tipo 2 se queixa de passividade e/ou cansaço. Fisicamente é magro, de peito afundado, tem músculos macios e fracos, peito frio. Hipoativo, com pouca energia. Comunica-se por perguntas, sua linguagem é indireta, leva a outra pessoa a protegê-lo maternalmente. Defende-se falando compulsivamente ou sugando a atenção de outros.

Riqueza interior do tipo 2: podem ser comparados a um belo instrumento musical, como um Stradivarius, que precisam afinar cuidadosamente para compor sua sinfonia única de vida. Quando aprender a confiar na abundância do universo e inverter o processo de se agarrar, quando aprender a dar, vai renunciar ao papel de vítima e agradecer o que consegue. Ao enfrentar o medo de ficar só vai mergulhar no vazio interior e encontrá-lo cheio de vida. Pode usar sua inteligência nas artes ou nas ciências, e será um mestre natural, porque se interessa por muitas coisas e pode ligar o que sabe ao amor que vem do coração.

O tipo 3 se queixa de se sentir derrotado. Fisicamente é mais pesado em cima do que embaixo, tem o peito inchado, a parte inferior do corpo é tensa, pernas e pelve são frias. Hiperatividade seguida de colapso. Sua linguagem é direta e manipuladora, levando a outra pessoa a se submeter.Defende-se dominando mentalmente o outro, retendo-o sob seu controle verbal aparentemente lógico.
Riqueza interior do tipo 3: cheio de fantasias e de aventuras de honra, onde vencem os mais verdadeiros e sinceros, num mundo de valores nobres sustentados pela perseverança e o valor, seu anseio é trazer tudo isto ao mundo real. Encontra a verdadeira entrega quando desiste de dominar os outros e estabelece contato com amigos: então passa a se sentir como um ser humano. Profundamente, é sincero e íntegro, e seu intelecto desenvolvido pode resolver desavenças ajudando outros a encontrar a própria verdade. É excelente no manejo de projetos complicados e tem um coração enorme.


O tipo 4 se queixa de tensão. É fisicamente pesado, a cabeça pende para a frente, é compactado, tem nádegas frias. Hipoativo, sua energia é interiorizada. Sua linguagem é de chorosa repulsa, controla ou manipula indiretamente usando expressões polidas, levando os outros a arreliá-lo. Defende-se atraindo a compaixão de outras pessoas, fechando-se em cisma silenciosa ostensiva ou disparando setas verbais.

Riqueza interior do tipo 4: como a prata e o ouro filigranados, sua criatividade se manifesta em desenhos intrincados, delicados, distintos, onde cada matiz importa. Quando se liberta de sua agressão e do medo de ser humilhado, expressa ativamente sua fantasia. Cheio de desvelo pelos outros, é um negociador natural, apoiador, com um enorme coração cheio de energia e compreensão para dar. Dotado de profunda compaixão e suavidade, tem também grande capacidade para se divertir e alegrar.

O tipo 5 se queixa de não ter sentimentos. Fisicamente tem as costas rígidas e a pelve para trás, é tenso, com regiões enrijecidas espalhadas pelo corpo, tem a pelve fria. Hiperativo, com energia alta. Comunica-se qualificando, sua linguagem é sedutora, levando os outros a competir com ele. Defende-se com demonstrações de superioridade, seja fortalecendo seus limites para se afastar, seja exibindo força de vontade controlada, ou mesmo em uma explosão histérica.

Riqueza interior do tipo 5: seu interior encerra aventura, paixão e amor, montanhas para escalar, causas para defender. Como nos mitos, voará até o sol, libertará povos; inspirará outros com sua paixão pela vida, será um líder natural. Quando permitir que seus sentimentos fluam e sejam vistos, quando partilhar o que quer que sinta, será capaz de um contato profundo com as pessoas e com o universo, onde brincará, desfrutando plenamente a vida.

Lembrete: cada um de nós é uma mistura de tipos, e esta é uma das tipologias que podem ser usadas para ajudar no conhecimento de si.

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