22.4.11

Sob o signo de Touro

Touro é regido por Vênus, sempre visto perto do Sol a partir da Terra, mas que tem um ciclo de 8 anos de conjunções com o Sol no mesmo ponto do zodíaco.

Miniatura de Brassempouye
Vênus/Afrodite simboliza o arquétipo da união, da harmonia, da intimidade. Representa também a criação de vida nova, a fertilidade feminina. Seus mitos são portanto muito antigos, começando talvez no Paleolítico, como se pode supor a partir das muitas miniaturas femininas encontradas em toda a Velha Europa. Várias são esculpidas em marfim de mamute.

Na mais antiga civilização, a da Suméria, aparece a deusa com seu filho, que se torna seu amante e a fecunda, sendo em seguida sacrificado. Este tema se repete na própria Babilônia com Istar e Dumuz, no Egito com Ísis e Hórus-Osíris, e mais tarde na Grécia com Afrodite e Adônis. A mesma deusa recebe ainda os nomes de Innana, Cibele, Atargatis.

Afrodite (afros = espuma) nasceu, na versão grega mais antiga, da castração de Urano, o céu, por seu filho Crono, que atirou ao mar os genitais do pai. Da espuma surgiu, madura e bela, Afrodite. Mais tarde surge outra versão, mais adequada à ordem patriarcal, em que ela é uma das deusas do Olimpo, subordinada ao rei dos deuses, Zeus.

Hefaístos
Mesmo nessa nova ordem a deusa é livre. Recusa-se a casar com um marido que não seja escolha sua, mas acaba cometendo um equívoco por supervalorizar as capacidades de seu amante Ares, e casa-se com o feio ferreiro coxo de Zeus, Hefaístos. Ele, apesar de tosco e mau-humorado, é um artista maravilhoso, que faz coisas belas e úteis.

O amante de Afrodite (Vênus) é Ares (Marte). São os dois planetas que ladeiam a Terra, para dentro, em direção ao Sol, e para fora, em direção ao espaço, respectivamente.

Afrodite terá também um amante mortal famoso, o belo Adônis, que disputará com Perséfone, a deusa do mundo suberrâneo. Este mito é uma modificação mais recente do antigo, da Mesopotâmia. Adônis aqui não é seu filho, mas um mortal que é sacrificado, morto por um javali, mas retorna sazonalmente, passando parte do ano entre os mortos e parte entre os vivos. Este é um mito de povos agricultores, onde o jovem, seja deus ou mortal, simboliza a semente. A deusa da fertilidade é a deusa da vida-morte, os dois lados do ciclo, inseparáveis. Para a maioria das mitologias de todos os povos, tudo que nasce morrerá, e tudo que morre renascerá.

Afrodite de Melos
Afrodite e o que ela simboliza - o amor e a fertilidade, a união, a beleza, a atração, o magnetismo - será esquecida, perseguida mesmo, até demonizada, em favor da valorização do ascetismo e da castidade durante a Idade Média. Suas correspondentes européias, como Birgitt, serão identificadas com o demônio, e suas seguidoras consideradas bruxas.

Mas no século IX, entre os árabes, surgem os trovadores, que se espalharão pela Europa nos séculos seguintes, trazendo o amor cortês que tomará conta dos corações, da arte, e da imaginação a partir do século XII. São desta época os romances sobre Tristão e Isolda, sobre Parsifal. Este momento, que prepara a Renascença, é também o nascimento do amor pessoal, individual, onde a mulher amada é valorizada, e o amor em si é uma graça divina.

Miniatura de Lespugue
Se o signo de Touro evoca a beleza de Afrodite, lembra também a criatividade de Hefaístos. O mito de Dédalo, arquiteto do labirinto do Minotauro, reflete no mundo humano a atuação deste daimon, como os chamava Sócrates.

Dédalo era um excelente artesão que, por ambição e inveja, cometeu um crime e teve que fugir. Recomeçou sua vida em Creta, a serviço do rei Minos. Creta era o país onde o touro lunar era importante, e Minos era filho de Posídon que o presenteara com um touro branco sagrado. O dever do rei era oferecer o touro em sacrifício ao deus, porque todo rei tem deveres suprapessoais. Mas o touro era muito bonito, e Minos o trocou por outro, pensando que Posídon não perceberia.

Ora, o único pecado que os deuses gregos não perdoam é que um mortal tente se igualar a eles.

Posídon fez a esposa do rei se apaixonar perdidamente pelo touro sagrado, e ela convenceu Dédalo a construir uma vaca oca em que ela pudesse entrar para concretizar sua paixão. Ela deu à luz o Minotauro, meio touro meio homem, e que comia carne humana. Minos reconheceu nisto o castigo divino e, para esconder sua vergonha e proteger o povo, ordenou a Dédalo a construção do labirinto.

O tributo de 7 moças e 7 rapazes que tinham que ser enviados pelos povos submetidos na guerra é uma referência a um momento na história de Creta em que os povos guerreiros já tinham invadido a ilha, onde antes jovens de ambos os sexos viviam em igualdade. O labirinto é um dos símbolos mais antigos do Paleolítico.

Sandro Boticelli, Galeria Uffizzi
Neste mito todos são taurinos: Dédalo, Minos e sua esposa Pasífae, o Minotauro, e Teseu, o herói que matará o Minotauro mais tarde. Cada um representa um aspecto do signo.

Este ano, ao entrar em Touro, o Sol está em bom aspecto com Plutão, o que o coloca em contato com a configuração tensa presente no céu nos últimos e próximos anos, entre Plutão, Urano e Saturno. O fato de ser um aspecto fluente não deixa de trazer a necessidade de mudança profunda para os nascidos no começo do signo.