10.9.19

Chakras: rodas e círculos

Imagem: Wikimedia Commons
 

De vez em quando algum aluno volta a me perguntar sobre os chakras, que originalmente fazem parte do tantra, e não da filosofia sânquia à qual o ioga está ligado. A Índia não é só antiga, é também grande, e se hoje existem lá dezessete idiomas oficiais – sem contar os dialetos – é porque em toda sua história foi casa de muitos povos diferentes. Claro que as culturas se misturaram, assim o bramanismo – hinduísmo atual – incorporou as práticas do ioga e os chakras se uniram ao conjunto. 

    Num apanhado rápido segue uma relação entre chakras, nadis como vistos pelos chineses, isto é, meridianos, e a relação destes meridianos com as emoções primárias. Mas tudo isso de acordo com minha interpretação, recomendo reflexão sobre o assunto.


    Os três primeiros chakras ligam-se à sobrevivência, são viscerais na expressão. 


    O primeiro, localizado no períneo, está ligado aos quadris como fonte do movimento das pernas, portanto se liga ao impulso de movimento, representado pelo meridiano da vesícula biliar. A emoção básica de vesícula e fígado é a raiva: impulso de atacar. Sua influência se estende aos membros inferiores, que se movem seguindo a lemniscata que os quadris descrevem no andar.


    O segundo fica no baixo ventre, e se relaciona com a bexiga, ligada ao medo, emoção que paralisa. Rins e bexiga são órgãos da função de eliminação. 


    O terceiro chakra fica no abdômen, e está relacionado ao estômago – por extensão à digestão como um todo – e sua emoção é o nojo, o impulso para se afastar. Sua área de influência é grande, abrange os intestinos delgado e grosso, vísceras, e os órgãos baço e pâncreas. 


    Estes três chakras se expressam nas funções psíquicas da percepção e intuição – funções de apreensão da realidade, ou parte por parte ou como um todo. Estas três emoções viscerais são a base para o desenvolvimento das outras duas que, veremos a seguir, são de outra ordem.


    O quarto chakra se localiza no peito. Seu órgão é o coração, e a emoção é a alegria. Mal compreendida neste mundo um tanto triste e raivoso, a alegria é a base do sentimento, mas este é uma construção cultural. É a alegria que impulsiona em direção ao exterior, ao contato com outros seres humanos, e que por sua vez deriva desse contato. 


    O quinto chakra fica no pescoço. Liga-se às vias respiratórias, seus órgãos são os pulmões. Sua emoção é a tristeza, base do pensamento, da reflexão. É o impulso para dentro, a introversão. 


    Pensamento e sentimento são funções racionais, são construção coletiva de uma cultura, são aprendidos. Coração e pulmões se situam no tórax, separados do abdômen pelo diafragma. São inseparáveis: alterando a respiração se altera o ritmo cardíaco. A neurociência demonstrou que o pensar é construído a partir do sentir. São duas funções – e emoções correspondentes – tipicamente humanas. 


    Os dois chakras do crânio pertencem a outra ordem. Pensar e sentir são a base para a evolução da consciência. No sexto chakra temos um nível de consciência de união com a totalidade do universo que não inclui o senso do eu – é a consciência profunda do vivo, que se manifesta pelo funcionamento de glândulas básicas como a hipófise e a pineal, e do tronco cefálico, que regula todo o funcionamento do organismo incluindo as emoções básicas.


    O sétimo chakra se estende por todo o córtex cerebral. É a consciência habitual, desperta, onde várias partes do córtex formam – e evocam – o tempo todo imagens visuais, sonoras, auditivas... que se unem numa construção pessoal que chamamos de realidade. É este chakra que permite, para quem a procura, a ampliação voluntária da consciência através dos vários níveis já percorridos pelos seres humanos desde nossa origem e por toda nossa evolução.