24.10.19

Astrologia e dinheiro


Antes que você pense que a astrologia te ensina a ganhar dinheiro, vamos conversar sobre para que a astrologia serve – o que ela faz.
Cédulas de vários países - Wikimedia
Astrologia não é previsão de futuro, isto seria adivinhação. Pode ser uma forma de interpretar o passado, entender porque aquilo aconteceu naquela época. A grande utilidade da astrologia é traduzir o Zeitgeist – o espírito do tempo – termo que se refere à complexidade de relações atuando num período. Para captar o espírito do presente – e agir, no presente, com responsabilidade – é preciso aprender as lições do passado. É também preciso estar se desenvolvendo como a pessoa que você nasceu para ser: um ser dotado de uma consciência sempre em expansão e que assume a responsabilidade por si mesmo e por sua atuação no mundo.

O assunto

Dinheiro: o que é?
A astrologia já existia quando o dinheiro foi inventado, foi preciso adaptar um conhecimento anterior para colocar o dinheiro em algum lugar do mapa. Que lugar é esse? A tradição européia, cartesiana, de uma astrologia para ricos e poderosos, coloca o dinheiro como propriedade – rico tem dinheiro, certo? Mas dinheiro é moeda corrente, é liquidez. Moeda de troca, que veio substituir o escambo, em que se troca uma mercadoria por outra. Ninguém pensaria em produzir feijão e guardar indefinidamente em casa: ele é plantado para ser consumido, e o excedente trocado por arroz, por exemplo.
Três casas do mapa – as casas são a expressão de todas as possibilidades de experiência de um ser vivendo na Terra – falam da parte material da experiência. A posição que se ocupa no lugar onde se vive, o que se tem ao ocupar esta posição, e o que se troca, dinamizando esta posição. Alguém pode ser o pescador da vila, ter seu barco e sua rede, e trocar seus peixes e seu conhecimento sobre peixes com outras pessoas. Então o dinheiro vai – ou não – entrar nas trocas. Pode haver escambo, o pescador pode ter construído seu barco, como ainda acontecia no litoral de SP no século XX. Esquematizando:
o pescador casa 10 posição
o barco, a rede casa 2 posses
o peixe pescado casa 6 trabalho, técnica

Quando a coisa não dá certo

Você está pensando que a vida é muito mais complexa que isso... e é mesmo. Continuemos, pois.
Destas três casas, a 10 é cardeal – inicia o tema – a posição do pescador na aldeia. As posses permitem manter a posição – a casa 2 é fixa – o pescador tem a rede, o barco e seu conhecimento. As trocas, o trabalho, modificam as duas anteriores – a casa 6 é mutável. É mutável porque depende da casa cardeal que vem em seguida, a 7, casa das relações sociais. O pescador troca com alguém, recebe dinheiro ou outra mercadoria e os dois saem com algo de valor para si.
Conclusão óbvia: a área material pode não dar certo porque “nenhum homem é uma ilha”.

O que fazer?

Wikimedia Commons
Como eu disse acima, astrologia não é cartesiana, é pura complexidade. Não tem isso de uma causa → um efeito. Vamos situar o dinheiro em relação a outros capitais que podemos ter.
Capital material: estivemos falando disso, dinheiro, mercadorias fluindo entre pessoas. Vem da posição que se ocupa, do uso dos meios para mantê-la, é o que flui como resultado.
Capital social: relações com pessoas. Relações de pessoa a pessoa formam um conjunto estável do grupo a que se pertence, com que quem se troca informações as mais diversas. Casas 7, 11 e 3, respectivamente.
Capital cultural: cada pessoa se identifica com sua cultura, que modela sua personalidade. Claro que essa modelagem é grande no começo da vida mas, à medida que a pessoa adquire mais consciência e mais conhecimento, torna-se capaz de modular isto pela vontade pessoal. A personalidade estável age no mundo, e se modifica pelas trocas com outras pessoas de cultura diferente. Casas 1, 5 e 9.
Capital psíquico: a parte silenciosa e profunda da vida. Valores alimentam a alma desde o começo da vida – espera-se que sejam nutrição, amor, compartilhamento – e permitem o desenvolvimento de uma psique estável, equilibrada e profunda, aberta ao desenvolvimento crescente através da percepção de pertencimento ao todo mais amplo: da humanidade, de todos os seres vivos, do universo. Casas 4, 8 e 12.
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Esse quatro capitais fazem girar a roda da vida, porque levam à transformação: tudo que é vivo está em constante transformação.
O capital material chama e depende das relações sociais (casas de ar), as relações dependem de, e transformam a consciência psíquica (casas de água), a vida da alma amplia a consciência e a cultura (casas de fogo) que, fechando o ciclo, transforma a posição no mundo.
Aplicando este quadro ao momento presente em sua vida, na cultura em que você se insere, avalie o quanto você permite o fluxo de seus quatro capitais, e você estará encontrando respostas para vários de seus problemas.

10.9.19

Chakras: rodas e círculos

Imagem: Wikimedia Commons
 

De vez em quando algum aluno volta a me perguntar sobre os chakras, que originalmente fazem parte do tantra, e não da filosofia sânquia à qual o ioga está ligado. A Índia não é só antiga, é também grande, e se hoje existem lá dezessete idiomas oficiais – sem contar os dialetos – é porque em toda sua história foi casa de muitos povos diferentes. Claro que as culturas se misturaram, assim o bramanismo – hinduísmo atual – incorporou as práticas do ioga e os chakras se uniram ao conjunto. 

    Num apanhado rápido segue uma relação entre chakras, nadis como vistos pelos chineses, isto é, meridianos, e a relação destes meridianos com as emoções primárias. Mas tudo isso de acordo com minha interpretação, recomendo reflexão sobre o assunto.


    Os três primeiros chakras ligam-se à sobrevivência, são viscerais na expressão. 


    O primeiro, localizado no períneo, está ligado aos quadris como fonte do movimento das pernas, portanto se liga ao impulso de movimento, representado pelo meridiano da vesícula biliar. A emoção básica de vesícula e fígado é a raiva: impulso de atacar. Sua influência se estende aos membros inferiores, que se movem seguindo a lemniscata que os quadris descrevem no andar.


    O segundo fica no baixo ventre, e se relaciona com a bexiga, ligada ao medo, emoção que paralisa. Rins e bexiga são órgãos da função de eliminação. 


    O terceiro chakra fica no abdômen, e está relacionado ao estômago – por extensão à digestão como um todo – e sua emoção é o nojo, o impulso para se afastar. Sua área de influência é grande, abrange os intestinos delgado e grosso, vísceras, e os órgãos baço e pâncreas. 


    Estes três chakras se expressam nas funções psíquicas da percepção e intuição – funções de apreensão da realidade, ou parte por parte ou como um todo. Estas três emoções viscerais são a base para o desenvolvimento das outras duas que, veremos a seguir, são de outra ordem.


    O quarto chakra se localiza no peito. Seu órgão é o coração, e a emoção é a alegria. Mal compreendida neste mundo um tanto triste e raivoso, a alegria é a base do sentimento, mas este é uma construção cultural. É a alegria que impulsiona em direção ao exterior, ao contato com outros seres humanos, e que por sua vez deriva desse contato. 


    O quinto chakra fica no pescoço. Liga-se às vias respiratórias, seus órgãos são os pulmões. Sua emoção é a tristeza, base do pensamento, da reflexão. É o impulso para dentro, a introversão. 


    Pensamento e sentimento são funções racionais, são construção coletiva de uma cultura, são aprendidos. Coração e pulmões se situam no tórax, separados do abdômen pelo diafragma. São inseparáveis: alterando a respiração se altera o ritmo cardíaco. A neurociência demonstrou que o pensar é construído a partir do sentir. São duas funções – e emoções correspondentes – tipicamente humanas. 


    Os dois chakras do crânio pertencem a outra ordem. Pensar e sentir são a base para a evolução da consciência. No sexto chakra temos um nível de consciência de união com a totalidade do universo que não inclui o senso do eu – é a consciência profunda do vivo, que se manifesta pelo funcionamento de glândulas básicas como a hipófise e a pineal, e do tronco cefálico, que regula todo o funcionamento do organismo incluindo as emoções básicas.


    O sétimo chakra se estende por todo o córtex cerebral. É a consciência habitual, desperta, onde várias partes do córtex formam – e evocam – o tempo todo imagens visuais, sonoras, auditivas... que se unem numa construção pessoal que chamamos de realidade. É este chakra que permite, para quem a procura, a ampliação voluntária da consciência através dos vários níveis já percorridos pelos seres humanos desde nossa origem e por toda nossa evolução.