16.6.12

O encantamento com a Vida


     Lembrei recentemente de dois fatos que me colocaram em contato com o Mistério da Vida. O primeiro, há muitos anos atrás ocorreu quando substituí uma amiga em um trabalho com crianças carentes. Eu caí de paraquedas, sem saber o que fazer. Levei bolas de futebol, papel e lápis de cor. As crianças não se entusiasmaram com as bolas (já faziam parte de seu mundo), mas se encantaram com os lápis de cor. Aquelas crianças de havaianas nos pés (na época eram baratinhas) em uma região bem fria, mal vestidas, de repente revelaram um brilho no olhar, um encantamento diante da possibilidade de criar...fiquei encantada com aquela Vida que se revelava maior que todas as carências e dificuldades.

     Outra situação, bem mais recente: estava numa região muito feia, poluída, carente de árvores, de beleza, de vida, muito triste com tudo aquilo quando de repente...uma revoada de pombas!!! Vida, no meio daquele deserto....

     Nestas duas situações minha reação foi: oh!!!!! sem pensamentos, sem palavras....apenas o encantamento.

22.1.12

Repensando o consumo: uma revolução necessária (e possível)


“Há uma piada sobre dois vendedores que viajam para a África representando suas respectivas empresas de calçados. O primeiro envia uma mensagem para a matriz: não mandem sapato algum, todos aqui andam descalços. A mensagem enviada pelo segundo foi: mandem dez milhões de pares imediatamente – todos aqui andam descalços. Essa velha anedota foi estabelecida como um elogio à perspicácia comercial agressiva e como condenação da filosofia empresarial predominante na época: dos negócios voltados para a satisfação de necessidades existentes, com as ofertas produzidas em resposta à demanda corrente. No entanto, nas poucas dezenas de anos que se seguiram, a filosofia empresarial completou uma virada....a finalidade do negócio é evitar que as necessidades sejam satisfeitas e evocar, induzir, conjurar e ampliar novas necessidades que clamam por satisfação e novos clientes em potencial, induzidos à ação por essas necessidades: em suma, há uma filosofia de afirmar que a função da oferta é criar demanda. Essa crença se aplica a todos os produtos – sejam eles fábricas ou sociedades financeiras. No que diz respeito à filosofia dos negócios, os empréstimos não são exceção: a oferta de empréstimos deve criar e ampliar a necessidade de empréstimos.
A introdução dos cartões de crédito foi um sinal do que viria a seguir. Foram lançados “no mercado” cerca de 30 anos atrás com o slogan exaustivo e extremamente sedutor de “Não adie a realização do seu desejo!” (Zygmunt Bauman, em “Vida a Crédito”).
Quem não viveu a experiência de atender a telefonemas de bancos ofertando cartões de crédito, mesmo que não tenha havido nenhum contato anterior com o estabelecimento em questão?
Consuma, mesmo que você não tenha dinheiro, endivide-se mesmo que não possa pagar – nós emprestaremos mais para que você possa quitar o(s) seu(s) cartão(ões) de crédito.
Não adie sua satisfação: seja como a criança que exige uma resposta pronta ao seu: “MAS EU QUERO!!!”. Aliás, ensine desde a mais tenra idade seus filhos a consumirem – basta para isso um pouco de TV todo o dia, expostos a uma massacrante propaganda dirigida diretamente às crianças, imaturas ainda para exercer um poder de crítica.
Há países aonde a propaganda dirigida às crianças é proibida; ela deve dirigir-se ao adulto responsável e apenas pode ser veiculada no horário noturno. A Fundação Alana luta para que medidas semelhantes sejam adotadas no Brasil.Recentemente ouvi em uma entrevista uma mãe defender o consumismo como uma forma de gerar empregos...penso, no entanto, que com a quantidade de pessoas existente no mundo, com certeza garantir os bens e serviços necessários para que todos vivam dignamente geraria empregos suficientes para todos.
Os recursos naturais estão escasseando, o lixo gerado pelo consumo inconseqüente é um problema insolúvel, somos mantidos infantis para que continuemos consumindo sem questionar, e isto gera conseqüências nefastas nos relacionamentos humanos...
Não seria o momento de refletir, de estabelecer prioridades realistas, baseadas em valores humanos (compaixão, sinceridade, cooperação)?. Antes de consumir analisar: que impacto o que estamos consumindo produz sobre a natureza? Que necessidade este produto atende? Esta necessidade é real, ou uma ilusão criada pelo mercado? Estou consumindo para preencher um vazio interno?