22.8.17

Meditação e vida diária


Onde vou falar sobre saúde, ego, preconceitos e felicidade
Há pouco tempo no grupo de meditação começou uma conversa sobre kriyas. “Se eu praticar, elimino as toxinas da alimentação?” Citei o mahamudra: Iyengar disse que ele tem a reputação de eliminar até veneno de cobra. Com certeza é muito mais antigo que o soro antiofídico. Mas se você é um brasileiro em cuja alimentação 70% dos itens contêm agrotóxicos, é suficiente praticar os kriyas? Já pensou em mudar para alimentos produzidos organicamente?
Thai (Thich Nhat Hanh), monge budista vietnamita, propõe uma meditação participante no mundo. Durante a Conferência do Clima em Paris seus mosteiros mantiveram monges meditando em período integral, para iluminar as mentes dos tomadores de decisão.

Meditar é ir para o centro, e o que está lá não é o ego, não é individual, é coletivo, é universal.
Ao optar pelos orgânicos dizemos não aos agrotóxicos – que também matam os trabalhadores rurais – e dizemos não aos transgênicos que destróem o equilíbrio da natureza, dizemos não ao trabalho escravo, dizemos não ao latifúndio. Isto porque a certificação obedece a padrões éticos do movimento orgânico.
oOo
Meditação é atenção. O ego – criação cultural, líquido, que muda o tempo todo – cessa de existir, o tempo cessa, o presente é a eternidade.
Como isto é extremamente difícil de entender, David Bohm se esforçou em traduzir para o ocidente esta idéia oriental. Cientista, físico quântico, diferencia o processo do pensar dos produtos deste processo, isto é, os pensamentos. Começa por explicar que essa distinção é a base do fazer ciência, e a estende para toda atividade humana. O processo dito da educação na nossa cultura é apenas um treinamento para inserir e evocar na memória pensamentos já pensados anteriormente e que dão forma à sociedade como ela é.
Pensar – o processo – é estar atento, observar, e analisar o que é a verdade do observado.
Analise, como exemplo atual, o que aconteceu em Charlottesville. Em que reside a superioridade dos brancos nos EUA? Na porcentagem da população que formam? De fato, excluídos os latinos, que somos multirraciais, os estadunidenses brancos são mais de 60% da população. Isto é, considerando que semitas não são brancos, mas apenas os ditos caucasianos. (Este pensamento não tem fundamentação científica, raça é um conceito abandonado há muito tempo, e hoje até o conceito de espécie não é seguro).
Mas, em tempos de globalização, olhamos o mundo todo e vemos que os tais caucasianos são 7% da população mundial. Mesmo nos EUA, entre as crianças até 5 anos de idade, os brancos não são mais maioria.
Vamos pensar então se a superioridade é qualitativa. Os brancos se classificam melhor em testes de matemática, por exemplo? As provas e olimpíadas mais recentes tiveram asiáticos nos primeiros lugares. EUA foram superados no Rio, ficando em quarto lugar. 60% da população mundial vive na Ásia.
Podemos parar a análise por aqui, mas sobre o racismo nacional acrescento que no Brasil já existe maioria negra. Fora da África, é o país com maior número de negros.
E a relação disto com meditação?
Meditar não é como tomar banho, que você faz todo dia durante 20 minutos e passa o resto do tempo se sujando. Sentar para meditar é uma preparação para viver em meditação. Atento. Consciente de ser parte da humanidade e ter uma função dentro dela. Consciente de que estamos todos unidos entre nós e a todos os outros seres que vivem na Terra. 

E feliz por isto.