22.1.12

Repensando o consumo: uma revolução necessária (e possível)


“Há uma piada sobre dois vendedores que viajam para a África representando suas respectivas empresas de calçados. O primeiro envia uma mensagem para a matriz: não mandem sapato algum, todos aqui andam descalços. A mensagem enviada pelo segundo foi: mandem dez milhões de pares imediatamente – todos aqui andam descalços. Essa velha anedota foi estabelecida como um elogio à perspicácia comercial agressiva e como condenação da filosofia empresarial predominante na época: dos negócios voltados para a satisfação de necessidades existentes, com as ofertas produzidas em resposta à demanda corrente. No entanto, nas poucas dezenas de anos que se seguiram, a filosofia empresarial completou uma virada....a finalidade do negócio é evitar que as necessidades sejam satisfeitas e evocar, induzir, conjurar e ampliar novas necessidades que clamam por satisfação e novos clientes em potencial, induzidos à ação por essas necessidades: em suma, há uma filosofia de afirmar que a função da oferta é criar demanda. Essa crença se aplica a todos os produtos – sejam eles fábricas ou sociedades financeiras. No que diz respeito à filosofia dos negócios, os empréstimos não são exceção: a oferta de empréstimos deve criar e ampliar a necessidade de empréstimos.
A introdução dos cartões de crédito foi um sinal do que viria a seguir. Foram lançados “no mercado” cerca de 30 anos atrás com o slogan exaustivo e extremamente sedutor de “Não adie a realização do seu desejo!” (Zygmunt Bauman, em “Vida a Crédito”).
Quem não viveu a experiência de atender a telefonemas de bancos ofertando cartões de crédito, mesmo que não tenha havido nenhum contato anterior com o estabelecimento em questão?
Consuma, mesmo que você não tenha dinheiro, endivide-se mesmo que não possa pagar – nós emprestaremos mais para que você possa quitar o(s) seu(s) cartão(ões) de crédito.
Não adie sua satisfação: seja como a criança que exige uma resposta pronta ao seu: “MAS EU QUERO!!!”. Aliás, ensine desde a mais tenra idade seus filhos a consumirem – basta para isso um pouco de TV todo o dia, expostos a uma massacrante propaganda dirigida diretamente às crianças, imaturas ainda para exercer um poder de crítica.
Há países aonde a propaganda dirigida às crianças é proibida; ela deve dirigir-se ao adulto responsável e apenas pode ser veiculada no horário noturno. A Fundação Alana luta para que medidas semelhantes sejam adotadas no Brasil.Recentemente ouvi em uma entrevista uma mãe defender o consumismo como uma forma de gerar empregos...penso, no entanto, que com a quantidade de pessoas existente no mundo, com certeza garantir os bens e serviços necessários para que todos vivam dignamente geraria empregos suficientes para todos.
Os recursos naturais estão escasseando, o lixo gerado pelo consumo inconseqüente é um problema insolúvel, somos mantidos infantis para que continuemos consumindo sem questionar, e isto gera conseqüências nefastas nos relacionamentos humanos...
Não seria o momento de refletir, de estabelecer prioridades realistas, baseadas em valores humanos (compaixão, sinceridade, cooperação)?. Antes de consumir analisar: que impacto o que estamos consumindo produz sobre a natureza? Que necessidade este produto atende? Esta necessidade é real, ou uma ilusão criada pelo mercado? Estou consumindo para preencher um vazio interno?