20.9.15

Meditação: início da primavera, lua cheia com eclipse

A primavera começa dia 23, quarta-feira, às 5:21 h.
A lua cheia acontece domingo, dia 27, e terá eclipse.

Primavera é começo, lua cheia é plenitude.
Primavera, Sandro Botticelli, 1482

Quando cheia, a Lua parece ter o mesmo tamanho do Sol. Quando ele nasce ela se põe, e vice-versa. Esta é a idéia do casamento alquímico, Lua e Sol iguais em tamanho e poder.

Na mitologia germânica, um lobo perseguia o Sol tentando devorá-lo, outro lobo perseguia a Lua. Para evitar isto, no eclipse, as pessoas saíam de casa e faziam muito barulho, afugentando o lobo.

Mas vamos comemorar esses eventos calmamente, com uma meditação, na sexta-feira, dia 25, às 18:00 h. Vamos começar com alguns exercícios suaves, preparando o corpo para sentar na calma. Depois faremos uma meditação curta.

Esta meditação é aberta a todos, mesmo quem nunca meditou, e é gratuita.

No Espaço Coaraci, Rua Ausonia 509, metrô Tucuruvi.

Namastê

7.8.15

Equilibrando a circulação da energia vital (prana) nos meridianos através das posturas de yoga (asanas)


Antes de praticar hatha yoga trabalhei como massagista, numa linha ligada à medicina tradicional chinesa. 
Ao iniciar o curso de formação de professores, comecei a perceber que as posturas trabalhavam regiões por onde passam os meridianos de energia, ponto de partida da acupuntura, moxabustão, shiatsu, etc... 
Lendo o livro do professor Hiroshi Motoyama (Teoria dos Chakras), constatei com alegria que ele fazia a correlação entre os nadis, do yoga, e os meridianos da medicina chinesa. Isto me deu ânimo para continuar pesquisando, através de leituras e principalmente da observação do meu próprio corpo e mente.
Tenho norteado minha prática, desde então, pela observação da energia que flui por estes canais, e hoje em dia sinto-me à vontade para conduzir minhas aulas nesse sentido, e para abrir este tema a reflexões mais amplas.
Devo ressaltar, a bem da verdade, que os pensamentos aqui expostos nada têm de originais; são apenas uma síntese do que recolhi – um pouco aqui, um pouco ali.
Os sábios chineses, observando a natureza, perceberam que tudo está em constante transformação. Dois princípios, ao mesmo tempo opostos e complementares, estão presentes em todos os fenômenos. Chamaram estes princípios de yin e yang.

Yin é o princípio feminino, cujos atributos são: a noite, o repouso, o que acolhe (receptivo), o sombrio, o vazio, a água, o interior.

Yang é o princípio masculino, cujos atributos são: o dia, o movimento, o que penetra (objetivo), o luminoso, o cheio, o fogo, o exterior,

Estes princípios não são estáticos, mas estão em constante movimento, transformando-se um no outro. Quando o yang chega ao seu ponto mais alto, transforma-se em yin (como as lágrimas que surgem no auge de um ataque de raiva).


Assim como dias e noites se sucedem, também as estações do ano transformam-se umas nas outras.
Estas transformações não ocorrem caoticamente, mas observam leis naturais, que também regem a vida humana, como parte que somos da natureza.
Assim, todos nós temos nossa primavera, na infância, onde tudo é novo e fresco como um broto; temos o esplendor do verão, na juventude, o amadurecimento do outono na maturidade, e a época de recolhimento e preparação para a morte, no inverno da nossa velhice. A sabedoria consiste em conhecer e respeitar cada fase, extraindo da vida a beleza peculiar a cada estágio.
As peculiaridades de cada estação permitiram aos chineses da Antigüidade correlacioná-las com elementos da natureza. Diga-se de passagem que eles davam a estes elementos o nome de “estados de mutação”, o que é coerente com a visão dinâmica do mundo que eles possuíam.
Estas energias fluem no organismo humano através dos meridianos, e é este ponto que nos interessa. Ao permanecermos em uma postura (asana), com a mente serena e concentrada, podemos sentir a energia vital fluindo através destes meridianos.
Quando sentimos dificuldade em permanecer numa determinada
postura, isto pode indicar que o meridiano trabalhado na postura está bloqueado. A energia não consegue fluir livremente – temos uma condição de excesso de energia.
Quando a postura é executada facilmente, mas a mente não consegue ficar estável (como se não quisesse entrar em contato com “alguma coisa”), - ficamos impacientes para sair daquela posição – isto pode indicar que há falta de energia no meridiano em questão. 
Quando a energia vital flui livremente por um meridiano podemos sentir seu fluxo e há prazer em permanecer na postura, por períodos cada vez mais longos – a postura se torna “estável e confortável” – este é o ideal preconizado por Patanjali no Yoga Sutras.
Cada meridiano está relacionado a um tipo de emoção; conhecendo seu estado energético nos tornamos mais conscientes de nossos estados emocionais e podemos trabalhar para equilibrá-los.
 Por tudo isto, acredito na importância de trabalhar com consciência nossos meridianos, permanecendo nos asanas. Escolhi refletir sobre cada estação do ano e os meridianos ligados a ela.



 

Alto verão


Este período corresponde ao final do verão, onde se inicia a passagem das estações de características mais yang (primavera e verão), para as estações mais yin (outono e inverno). A energia vital passa por uma fase de centralização.
Em nós a terra é o centro do corpo: timo, estômago, pâncreas e baço, umbigo.
É o centro da atividade mental: idéias e opiniões, capacidade de reflexão. É o centro do espaço que nos envolve: carne que reveste os nossos ossos e músculos, que nós dá uma aparência e identidade corporal. 

O elemento desta estação é a Terra; em equilíbrio faz com que fiquemos em paz com quem somos, e nos sentimos em casa onde quer que estejamos, pois sempre estamos em nossa própria casa/corpo/mente.
A boca, os lábios, tudo ligado ao comer, mas também ao sorrir, cantar, se comunicar, está ligado à terra. Os meridianos relacionados a esse elemento são estômago e baço-pâncreas. A assimilação daquilo que ingerimos, bem como das experiências que passamos, está ligada a estes meridianos. A capacidade de aceitar as pessoas, “assimilá-las” (compreendê-las), também tem a ver com a energia de E/BP.
Podemos sentir a energia fluindo por esses meridianos quando permanecemos em posturas como o Virasana e principalmente o Supta Virasana.
Alimentação
O sabor ligado ao elemento terra é o doce; quando ingerido em excesso gera desequilíbrios nos meridianos de E/BP. É preferível ingerir alimentos naturalmente doces, usando com cautela o açúcar (evitar o açúcar refinado).
Alguns dos alimentos que favorecem estes meridianos: carboidratos complexos, fornecidos por cereais, feijões, tubérculos, raízes, bulbos, cebola, abóbora, nabo, beterraba, maxixe, inhame. Também é bom utilizar temperos: louro, coentro, açafrão, hortelã, cominho, alecrim, sálvia, cravo, canela, etc... As frutas amarelas ou amareladas também são bem-vindas: laranja, lima, maracujá, mamão,... in natura ou em forma de sucos.

Alimentos anímicos
O contato com a terra, seja cuidando de uma horta, jardim, ou mesmo de um vaso de plantas, harmoniza a energia dos meridianos de E/BP.
Caminhadas em ritmo acelerado, por mais ou menos 40 minutos, auxiliam a manter em equilíbrio a energia do elemento terra.
Cuidado com a boca: comer demais e abusar de açúcar são os pontos fracos nesta estação do ano.
Como o alto verão marca a passagem para as estações de energia mais yin, é saudável começar a preparação para esta fase, fazendo períodos diários de meditação, ou tirando alguns momentos do dia para atividades voltadas para a interiorização.
Alguns sinais de desequilíbrio em E/BP são: depressão, tendência exagerada ao isolamento, ansiedade, falta de paciência e de perseverança, pressa constante, comportamento obsessivo, neuroses.

Verão


O elemento preponderante nesta estação do ano é o Fogo, que ao mesmo tempo aquece e ilumina.
Na primavera vários brotos surgiram, semelhantes entre si, frágeis, exigindo força para sobreviverem e crescerem. Agora, no verão, as coisas ficam claras, diferenciadas. Já sabemos quais brotos conseguiram crescer, quais morreram; em nossas vidas temos consciência de quais são os projetos em que realmente queremos continuar investindo. Temos clareza do que “vale a pena”. 
Esta escolha é feita pelo nosso coração; por mais que a razão nos diga que o caminho x é mais seguro, ou melhor, se nosso coração não está aí, dificilmente teremos êxito. Porém, esta escolha do coração não é cega, passional, mas está ancorada nas necessidades da nossa alma, do nosso centro, e é baseada na intuição – a capacidade de ver mais longe e com mais clareza, além das limitações do ego e da mente racional.
Os meridianos ligados à energia do fogo são coração e intestino delgado. Através da circulação do sangue eles também fazem circular o calor e o entusiasmo por todo o nosso organismo. Sem este entusiasmo não nos seria possível continuar com os projetos que iniciamos na primavera. A generosidade e a compaixão também se relacionam com estes meridianos; costumamos dizer que uma pessoa tem “um bom coração”, ou “um coração de pedra”.
Podemos sentir a energia vital fluindo por estes meridianos quando permanecemos em posturas como: Gomukhasana (a postura da cara da vaca), Baddha Konasana.
Alimentação
O sabor ligado ao elemento fogo é o amargo; devemos ingeri-lo com cuidado durante o verão. Um pouco deste sabor estimula a energia de C/ID, mas seu excesso descontrola o ritmo do coração e a temperatura dos órgãos.
Frutas e frutos frescos e suculentos, saladas coloridas, de preferência preparadas cruas e temperadas com pouco (ou nenhum) sal, vegetais ligeiramente refogados, ou cozidos no vapor, fazem muito bem a esses meridianos. Como a energia do fogo está ativada, devemos evitar cozinhar demais os alimentos, pois isto ativa ainda mais esta energia, podendo gerar excesso.  


Alimentos amargos, como: jiló, couve, chicória, serralha, catalônia, raditi, escarola, folhas de cenoura, etc... estimulam a energia de C/ID. Como foi dito antes, devemos evitar o seu excesso.

Alimentos anímicos
Estando o coração ligado aos sentimentos, ao calor humano, sua energia harmoniza-se quando convivemos com pessoas amorosas, compassivas, bem como desenvolvemos em nós mesmos estas virtudes. 
Tomar banhos de sol (antes da 11 h e após as 15 h). Contemplar o nascer e o pôr do sol, permitindo maravilhar-se com estes espetáculos, cuidar do aconchego do nosso lar (ter flores em casa ajuda a equilibrar a energia do coração).
As emoções ligadas a esses meridianos são a sinceridade amorosa e serena, a compaixão e a generosidade.
Em desequilíbrio esta energia gera histeria ou uma tristeza permanente (luto).

Hatha yoga

é a parte do yoga que nos ajuda a acalmar a mente utilizando posturas físicas (asanas) com concentração mental, exercícios respiratórios (pranayamas) e técnicas de relaxamento. Estas práticas são instrumentos para, através da quietude do corpo, atingir a tranqüilidade da mente, que propicia o contato com nossa verdadeira essência - nosso Ser interior - tão bem descrito por Swami Muktananda no trecho que transcrevemos. 
Assim sendo, devemos fazer as posturas com a mente concentrada, livre de preocupações com resultados, prazos, comparações. O corpo e a mente vão se libertando com a persistência na prática, e esta deve ser uma fonte de prazer, de descobertas - nunca de dor, tensão, nem a procura obstinada por um resultado físico a curto prazo.

A alegria está em sentir o corpo se abrindo, se descobrindo a cada respiração. Quando sentimos dor, desconforto, é sinal de que estamos ultrapassando nosso limite. Isto não é necessário, nem saudável. Devemos voltar um “pontinho” atrás, antes da dor, e ficar, sem pressa, respirando e observando. Aí algo maravilhoso acontece: percebemos nosso corpo e nossa mente abandonando as resistências (fonte de toda dor), nossos movimentos se ampliam, sem luta. Isto é o oposto do que aprendemos até hoje. Sempre nos mandaram lutar contra o mundo para alcançar nossos objetivos e agora, no hatha yoga, descobrimos que é abandonando a luta, a resistência, que alcançamos alegria e liberdade. 
No yoga aprendemos que todas as ações são permeadas por três qualidades (gunas): sattwa, rajas e tamas. Sattwa é a qualidade da pureza, luz, harmonia e bondade. Rajas, a qualidade da atividade ou paixão, e tamas a qualidade da inércia, escuridão e ignorância. Num dia vivemos essas três qualidades, num momento ou noutro. Às vezes nos sentimos puros, servindo sem interesse; em outro estamos muito ativos, esperando recompensa, esperando resultados; em outro momento ainda nos sentimos preguiçosos, amarrados, inertes.
Ao praticar yoga buscamos sattwa guna - a harmonia, o desprendimento. Não importa a que religião pertençamos (ou se não seguimos nenhuma), a nossa idade ou o nosso sexo; o yoga é um caminho para todos que buscam melhorar sua qualidade de vida.
Namastê
 

Yoga e felicidade


Yoga é a união do corpo, da mente e do espírito. 

Através de um conjunto de práticas que inclui relaxamento, posturas (asanas), exercícios respiratórios, concentração e memorização, o hatha yoga produz profundos efeitos na harmonização e paz interior, sanando problemas a nível externo e interno. Os asanas são psicofísicos, proporcionando um reequilíbrio físico e mental. 

Para que você possa extrair dessa prática o máximo de bem-estar seguem aqui algumas palavras sobre o yoga. A palavra sânscrita yoga significa “união”. Mas união com quem? Para responder esta questão tomo a liberdade de citar um grande yogue, Swami Muktananda, que diz em seu livro Medite:

 
"Que desejam os seres humanos? Desejamos a felicidade. Tudo que fazemos, fazemos pela felicidade. Buscamos esta felicidade através do nosso trabalho, dos nossos amigos e da nossa família; através da arte e da ciência; da comida, da bebida e das diversões. Pela felicidade realizamos todas as atividades da vida diária, e esta é a razão pela qual continuamos a expandir o nosso mundo material.
Dentro de nós reside uma felicidade divina, a mesma que buscamos no mundo. Se pensarmos na alegria que recebemos das diferentes atividades compreenderemos que experimentamos a felicidade não nas atividades, mas dentro de nós mesmos. Por exemplo: quando olha um quadro bonito, onde você sente prazer, no quadro ou em você? Quando come um prato delicioso, você sente satisfação na comida ou em você mesmo? Quando se encontra com um amigo e sente alegria, a alegria está em seu amigo ou em você? A verdade é que a alegria encontrada em todas estas coisas é simplesmente um reflexo da alegria de seu próprio Ser interior.
A prova disto é o nosso sono. Ao final de cada dia, não importa o quanto tenhamos comido ou bebido, o quanto tenhamos ganho ou desfrutado, estamos exaustos. Tudo o que queremos fazer é ir para o quarto, apagar a luz e nos refugiar sob os cobertores. Durante o sono, estamos completamente sozinhos. Não queremos mulher, marido, amigos, nem nossos pertences. Não comemos nada, não ganhamos nada, não desfrutamos de nada. Ainda assim, enquanto dormimos, o cansaço de nossas horas de vigília desaparece naturalmente pela força do nosso próprio espírito. Pela manhã, ao despertar, estamos plenamente descansados.
Esta é uma experiência que temos todos os dias. Se prestarmos atenção na razão pela qual nos esgotamos com tudo o que fazemos durante o dia, e na razão pela qual obtemos tanta paz no sono, compreenderemos que a fonte real de nosso contentamento não está em comer nem em beber, nem em nada exterior a nós, mas em nosso interior. Durante o dia, a mente se dirige para fora. Contudo, em estado de sono profundo a mente descansa no Ser e isto remove nossa fadiga. .... Se fôssemos além do sono e entrássemos em meditação, beberíamos o néctar do amor e da felicidade que reside no coração.” 

Por estas palavras, percebemos que é o estado intranqüilo, agitado de nossa mente que nos impede de entrar em contato com a fonte de felicidade que reside em nós. 


Namastê 
Valéria Prado