18.12.18

Yoga, astrologia, e ser

    Cada vez mais o yoga é procurado não só pelo aspecto físico, mas por ser uma prática  integral. No caos da vida urbana se sabe que a doença física e as questões emocionais são dois aspectos da falta de equilíbrio. Existe uma busca crescente por práticas que tragam serenidade, o que é necessário para dar um sentido à existência.


    Os textos de yoga falam sempre do ashtanga – as oito partes do yoga – que começam com a ética: a primeira ocupação de um praticante se refere a suas relações com outros seres. Embora pareça que as oito partes sejam uma sucessão, elas são concomitantes. A meditação não substitui a ética na vida mundana, por exemplo. Nas filosofias da Índia não há separação entre pensar e ser, entre vida intelectual e vida espiritual, ou qualquer outra separação. A prática é um caminho de desenvolvimento pessoal, que nunca acaba, e que se renova a cada dia.

    Na história dos povos, incluindo os ocidentais, sempre houve duas abordagens complementares do real: a racional e a simbólica. Isto anda esquecido e até mesmo perseguido há alguns séculos, mais em algumas épocas e menos em outras. E nas duas direções: Galileu foi perseguido por ser racional, opondo-se ao mito do homem como cereja do bolo da criação divina e portanto habitante do centro do universo; o altar cristão da Notre-Dâme de Paris durante a Revolução Francesa foi substituído por um altar à liberdade.

    Como yoga é união, também esta síntese faz parte da integração do praticante. Cada um desses dois discursos, o lógico e o mítico, tem sua função, sua esfera de ação. Viver no mundo atual, tecnológico, é viver no mundo lógico da ciência, e também no contexto abordado pela história, política, e outros ramos do conhecimento objetivo: função da consciência objetiva em cada um de nós, aquilo em nós que olha para fora em busca de compreensão, de conhecimento sobre o mundo.

    A função mítica foi substituída em parte pela ciência – que desenvolveu explicações objetivas do universo material em substituição à abordagem arcaica – em parte pela psicologia – ciência humana que acumula conhecimento sobre os tipos de pessoas e sobre o desenvolvimento – e em parte pela sociologia e política – ciências humanas das interações sociais. Mas a quarta função dos mitos, a simbólica, não foi substituída pelas filosofias e as religiões.

    A função do símbolo é unir o indivíduo ao todo, ao mistério, de forma direta, sem a intermediação da mente. O mito sempre esteve por trás dos rituais, e a função do ritual é provocar uma modificação na consciência. É a consciência subjetiva que faz este caminho, a consciência que busca conhecimento através de caminho interno, solitário. Os rituais têm guias, que conduzem a pessoa até a porta do lugar “de onde as palavras voltam”. Mas se entra sozinho.

    O desenvolvimento da consciência inclui as duas vertentes: estar no mundo exterior e no mundo interior. Na prática de yoga a meditação é a experiência interior, a busca interna de contatar o todo, conhecer a conexão de si próprio com a totalidade. A busca da  astrologia é a da expressão pessoal desta conexão ao colocar no mundo sua verdade interna – aquilo que cada pessoa descobre ser sua verdadeira intenção na vida, conhecida não pela razão mas ao contatar pessoalmente a Fonte.