28.4.13

Sobre o centro de energia e os meridianos (nadhis)




         Começo citando um texto extraído do livro “HARA”, de Karlfried Graf Durckheim:

“O corpo é a manifestação da alma, e a alma é o sentido do corpo; portanto, não existe nenhuma estrutura mental e nenhuma tensão espiritual que não se reflita no corpo. O ponto de gravidade espiritual corresponde ao ponto de gravidade do corpo, e significa também que o encontro do centro interior é ao mesmo tempo o encontro do centro físico.
         Mas onde fica o centro do corpo? Na região do umbigo, mais exatamente um pouco abaixo.
         Quem possui Hara pode e está preparado para tudo e também para a morte, resignando-se a qualquer situação. Ele também pode curvar-se diante do vencedor, sem se entregar e pode esperar. Ele não se opõe contra o fluxo da roda do destino, mas espera serenamente o tempo passar. Visto pelo prisma do Hara, o mundo é totalmente diferente. Ele é como é, sempre diferente do que se deseja, mas continuamente em harmonia com tudo. A obstinação causa sofrimento”.
         O Hara, a que se refere o autor é o centro da energia do nosso corpo, que na  yoga chamamos de manipura (cidade da jóia), no taoísmo chamamos de tai chi. Toda prática oriental visa o retorno a esse centro, a permanência nele, pois quando a energia está concentrada nesse ponto ela pode fluir livremente pelos canais de energia.
O remédio é a energia – dizia Mestre Liu Pai Lin. Quando ela flui temos uma condição de saúde, e quando ela fica estagnada, represada, adoecemos.

Isto nos remete aos meridianos de energia, que na yoga são chamados de nadhis. Toda medicina tradicional chinesa se baseia nos meridianos; a acupuntura visa desobstruir os mesmos, assim como as massagens nascidas no oriente: tui-ná, shiatzu, do-in, etc...

Os meridianos fazem a ligação do exterior com o interior, do superficial com o profundo; atuando sobre o meridiano, atuamos no órgão. Eles são um fluxo de energia contínuo, como o curso de um rio ininterrupto.

Ao realizarmos posturas que atuam sobre as laterais do corpo, como os Trikonasanas, por exemplo, estamos desbloqueando os meridianos de Fígado e Vesícula Biliar (F-VB que) passam por esta região. Cada meridiano está ligado a um elemento da natureza, a um sabor, a uma estação do ano, a um clima, a uma atitude, a uma emoção, etc...
Fígado e Vesícula Biliar estão ligados ao elemento Madeira; sua energia é de expansão, ela procura abrir caminho, criar espaços.
Estação: primavera (quando estes meridianos estão ao mesmo tempo mais ativos e mais sensíveis, precisando de mais atenção e cuidados).
Sabor: ácido (em excesso pode prejudicar a energia do fígado, mas na dose certa atua como um verdadeiro remédio)
Partes do corpo governadas: nervos e tendões, olhos.
Emoções: raiva, irritação, impaciência.
Atitude: planejamento e decisão.

Nas posturas que atuam sobre a abertura do tórax, como Ustrasana (a postura do camelo) estamos desbloqueando os meridianos de Coração e Intestino Delgado (C-ID) que possuem pontos importantes nesta região e nos braços.

Coração e Intestino Delgado estão ligados ao elemento fogo; o sol aquece e permite a vida na terra e o sol em nós é o coração, que irradia calor humano e alegria. Quando estes meridianos estão desequilibrados tanto podemos ficar fechados demais, mal humorados ou histéricos, super excitados.
Estação: Verão
Sabor:  amargo
Partes do corpo governadas: veias e artérias, língua.
Emoções: histeria, hiperexcitação
Atitude: alegria, comunicação, calor humano.

Nas posturas que atuam sobre a parte anterior das pernas, como os Virasanas, estamos desbloqueando os meridianos de Estomago e Baço-Pâncras (E-BP), que possuem pontos importantes nesta região.
Estes meridianos estão ligados ao elemento Terra – que é o chão que pisamos, o que nos dá estabilidade, base, centro.
Estação: o final do Verão, mas também a parte final de cada estação, quando a natureza já prepara o período, a estação seguinte.
Sabor: doce (o doce natural dos alimentos – das frutas, por exemplo; o açúcar, especialmente o refinado pode causar desequilíbrios nestes meridianos, especialmente quando ingeridos em excesso)
Partes do corpo governadas: músculos, circulação linfática, boca.
Emoções: preocupação, crítica, pensamento obsessivo.
Atitude: reflexão, permanecer no seu próprio centro.
Nas posturas que atuam sobre ombros, braços e naquelas que visam desbloquear as juntas do corpo (aonde a energia se bloqueia mais facilmente) estamos desbloqueando os meridianos de Pulmão e Intestino Grosso (P-IG).
Estes meridianos estão ligados ao elemento Metal, ao período de colheita, quando os frutos estão maduros. Os pulmões guardam o material precioso, o tesouro sem o qual os demais órgãos não poderiam funcionar.
Estação: Outono
Sabor: picante (um pouco ajuda a energia, em excesso pode prejudicar pulmão e intestino grosso)
Partes do corpo governadas: pele e nariz.
Emoções: tristeza, ressentimento.
Atitude: saber criar pausas para absorver as experiências.

Nas posturas que atuam na parte posterior do corpo, como o Paschimottanasana, estamos desbloqueando os meridianos de Rins e Bexiga (R-B).
Estes meridianos estão ligados ao elemento água; estes meridianos guardam a energia pré-natal, por isso é muito importante cuidar desses meridianos.
Estação: inverno
Sabor: salgado
Partes do corpo governadas: ossos, medula, ouvidos.
Emoções: medo
Atitude: sabedoria de saber fluir com a vida, buscando contornar os obstáculos, como faz a água, perseverando pacientemente, esperando que a semente esteja pronta para germinar.

Estes meridianos estão em constante fluxo, interagindo constantemente em ciclos de energia. Cada elemento, cada meridiano, gera outro, em um ciclo de geração de energia:

A madeira queima, produzindo o Fogo, de cujas cinzas se forma a Terra, e dentro dela se condensa o Metal que expulsa de si a água. Em outras palavras: madeira gera fogo, que gera terra, que gera metal, que gera água, que alimenta madeira. Daí temos o ciclo Mãe-Filho (ou ciclo de geração):
Madeira(F-VB) é mãe de Fogo;
Fogo(C-ID) é mãe da Terra;
Terra(E-BP) é mãe de Metal;
Metal(P-IG) é mãe da Água;
Água(R-B) é mãe da Madeira.

Se um meridiano se desequilibra, todo o organismo sofre, pois todos estão interligados; por este motivo também não adianta tratar um único meridiano (ou um único órgão).
Mas temos ainda um outro ciclo de energia: Avó-Neta ou ciclo de dominação:
A água apaga o fogo, que funde o metal, que corta a madeira, que esgota a terra, que absorve a água.
Madeira(F-VB) é avó da Terra;
Fogo(C-ID) é avó do Metal;
Terra(E-BP) é avó da Água;
Metal(P-IG) é avó da Madeira;
Água(R-B) é avó do Fogo.

Este ciclo auxilia a “manter as coisas no lugar”, equilibrando a energia dos elementos, dos meridianos e tudo que se refere a eles – como as emoções, por exemplo.
Por exemplo: se a energia da madeira (F-VB) está bloqueada (há um excesso) podemos ajudar a desbloquear recorrendo a avó de Fígado (P-IG). Podemos pensar em utilizar os sabores - diminuir o ácido que em excesso pode prejudicar esses meridianos e aumentar com moderação o sabor picante que fortalecendo a avó ajudará a neta. Podemos ainda utilizar a atitude de P-IG – a introspecção, a meditação, para ajudar a harmonizar a energia da neta, etc...

Temos instrumentos para trabalhar nossa energia o que se reflete não apenas na nossa saúde, na nossa paz interior, mas também nas nossas relações, nos nossos afetos. Esta paz pode se irradiar do nosso centro – e isso não é algo que atingimos pela vontade do ego, pelo desejo de sermos bons, de sermos melhores,etc...vem de encontrarmos nosso centro verdadeiro, o Hara, a “Cidade da Jóia” que reside em cada ser, e não pertence a ninguém.

Namastê


Um comentário:

Anônimo disse...

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